quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Mediocridade

Tava passando hoje por dentro da praça cívica e percebi os enfeites de natal, as tendas, as luzes e as outras coisas que eles tão colocando lá. Pensei: “Nossa, pra que esse investimento tão grande em uma coisa q não vai durar nem 1 mês (afinal eles precisam desmontar tudo e construir a estrutura do ano novo oO) ?” Logo veio à minha cabeça o clássico, o quase clichê, pão e circo. Parece que o governo do estado está trabalhando bem nessa área esse ano, visto o número de eventos “culturais” que está acontecendo por aqui. Não que eu seja contra eventos “culturais”, pelo contrário, gosto muito dessas coisas, fico realmente encantado com essas luzinhas e gosto muito do natal (apesar de ser a época mais melancólica de todas). O “culturais” saiu entre aspas por outro motivo, porque eu acho que goiás é um dos muitos ugares do mundo onde não se valoriza realmente a cultura daqui, mas se aceita veladamente. Mas isso é assunto pra outro post.

Quando pensei em pão e circo, logo pensei que quem criou essa expressão é um gênio. Afinal é isso que as pessoas precisam. Só comida traria aos nossos olhos o quanto a nossa existência é miserável e logo estouraria uma revolta que nos tirasse dessa desgraça de vida, ou que propusesse suicídio coletivo, o que fosse mais rápido e viável. Por outro lado só o circo, só a diversão nós levaria, bem, nós levaria à morte por inanição. Um governo pra ser estável só precisa disso, de fornecer pão e circo o bastante pra mascarar as mazelas. Uma coisa meio: “E dai que eu moro numa favela e tem um esgoto passando do lado de casa ? O que importa é que mês que vem é carnaval!”

Até aqui eu acho que não trouxe contribuição nenhuma além do que você já deve ter. Imagino que o público leitor desse blog já se confrontou com o “pão e circo” antes. Todo mundo sabe que essa fórmula latina “panis et circenses” é seguida à risca pelos políticos brasileiros tem mais ou menos 511 anos (se não mais) e pela humanidade antes mesmo que o termo fosse registrado. Mas ao pensar em pão e circo eu logo relacionei com a música dos mutantes, panis et circenses, que fala de mais coisas do que a enganação da nossa população e o oportunismo dos nossos políticos. Mostra como nós, que nos achamos instruídos e que achamos que não caimos nessa falácia, já estamos dentro do pão e circo. Emergidos até o último fio de cabelo. A música fala em “as pessoas da sala de jantar estão ocupadas em nascer e morrer”. O que eu interpreto desse verso é que ao nosso lado tem várias pessoas ocupadas com coisas triviais, com o simplesmente nascer e morrer, que passam a vida sem profundidade e substância. Que tem pessoas logo ali, dentro da sua casa, que só pensam no pão e no circo.



Não importa se o seu pão é lagosta com champagne nem se seu circo é uma festa no seu iate, mas é inegável que, no mínimo, 80% das pessoas que você conhece (e até mesmo você) vivem numa ansiedade danada, numa correria do dia a dia, pra no final comer e se divertir. As pessoas não pensam em se aprofundar em algo, em acreditar em algo, em criar algo, em ser feliz na mais plena acepção do termo. As pessoas nascem, crescem, estudam, se relacionam, se reproduzem, trabalham, criam filhos, brincam com os netos, se aposentam e morrem pensando só em comer e se divertir. E a capacidade do ser humano de ir além disso ? Onde está a capacidade de melhorar-se ?

As vezes caímos na mentalidade intelectualóide de que é o garoto da favela que está vivendo no pão e circo quando ele vem aqui na praça cívica ver um show de fantoches e depois volta pra sua casa de papelão. Mas na verdade nós estamos caindo na idiotice do pão e circo com nossas próprias pernas, “sem ajuda governamental”, e o pior, com consciência total disso. Não podemos alegar nem ignorância, não podemos alegar que desconhecemos . Como uma frase que eu já ouvi várias vezes: “ Ah, eu estudo muito pra um dia poder viajar pra onde eu quiser” Tá, amigão, eu também gosto de viajar, acho bacana e tal. Mas você vai viajar pra que? Com que propósito final? Pra comer e se divertir ou pra adicionar cultura, informação, experiência de vida, alegria verdadeira (e não apenas euforia por estar do lado do pato donald na Disney) ?

Esse tipo de questionamento eu acho que muda o foco das pessoas. Pensei bem nisso e decidi que não quero me preocupar com dinheiro de um modo obcecado. Não quero ser rico, não quero esbanjar nada pra ninguém, não quero deixar herança pra, provavelmente, um bando de urubus. Mas também não vou radicalizar, já que dinheiro é um mal necessário. Não vou queimar dinheiro, nem me tornar um fodido completo (pelo menos não mais do que já sou). Vou tentar viver pra acrescentar coisas pra mim e não pra minha casa, pra sentir sensações, pra ver maravilhas e me tornar um velhinho que saiba muito da vida. Mas saiba da vida não de modo enciclopédico, acadêmico, e consequentemente, chato. Mas de vivência, sabedoria, de saber contar onde adquiriu cada cicatriz, de poder contar as histórias marcantes da sua vida. Isso é viver, o resto é sobreviver, é comer migalhas. É correr atrás de coisas que não vão mudar a sua vida (ou talvez mude pra pior, dependendo da sua índole) e nem nas pessoas a sua volta e, consequentemente, em você. É morrer com a conta cheia de grana, mas com pouca vivência verdadeira. Pra mim isso é o mais puro significado de mediocridade.

Ps.: Esse blog não é semanal, hein. Quando eu sair de ferias vcs vão ver que eu to tendo mais tempo pra pensar e pra escrever (:

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Consciência Negra

Boa Tarde a todos!
Não sei se sabem, mas ontem foi o dia da consciência negra.
Eu sou negro, assumidamente. E me perguntam bastante sobre o que é ser negro.
Acho que ser negro é principalmente o "assumidamente". Explicando: ser negro é além de uma cor de pele, mais que um tipo de feição física/facial. Ser negro é ter orgulho das suas origens, ter orgulho de quem você é, da sua raça. É se emocionar com o sofrimento do passado e do presente do seu povo. É pensar que você é diferente, nem melhor nem pior.

Eu costumo ouvir que é errado separar as pessoas em raças, etnias, porque somos todos os mesmos. Mas esse é um equivoco que considero racista, já que não somos iguais. Brancos e negros, índios, asiáticos, etc não são iguais. Somos diferentes, mas podemos conviver com essas diferenças, respeitá-las e aprender um com os outros. A homogeneização, uniformização de uma sociedade é uma ideia racista. O certo não é esquecer o passado de agressão que nós, negros, sofremos, mas sim usar esse passado para o nosso fortalecimento como povo. É lembrar que nações inteiras, princípes e reis estão entre nós, com a injustiça por serem aprisionados, humilhados e mandados para uma terra distante, que pouco lhes acolheram. Ser negro é lembrar que muitos dos nossos irmãos são ainda escravizados, marginalizados, humilhados, menosprezados.



Não se enganem, o racismo existe. Existe no sorriso velado, nos olhares dentro das lojas, na ideia de que os negros são sempre subalternos. Na maioria das vezes, o racismo se mostra inconsciente, uma construção cultural que vai além da vontade das pessoas e atinge um nível de "tranquilidade" no nosso dia a dia que me choca. Não me ofendo com piadas, com brincadeiras, até mesmo com xingamentos, porque na maioria das vezes esses não tem a intenção de me ofender. Me ofendo é com os elogios que contém um fundo racista, as gentilezas forçadas por gente que claramente não gostaria que você estivesse do seu lado, mas sim em um senzala. Eu vejo o racismo quando entro em uma loja e os atendentes me olham como se eu fosse roubar algo, eu vejo racismo quando estou andando na rua e as pessoas seguram suas bolsas, eu vejo racismo quando abro a boca em um lugar público e falo mais ou melhor do que as pessoas esperam de um negro, eu vejo o racismo pelo conceito de beleza reinante, que exclui os traços, trejeitos e até a própria cor de pele. No entanto, eu acho que cabe aos próprios negros lutarem contra o racismo, primeiramente dentro de si mesmos, afirmando a sua origem, afirmando a sua competência e demonstrando que podemos ser tão bonitos, capazes ou até mais que os outros.

Ah, e quanto a imagem, eu considero o Barack Obama um exemplo, um simbolo de que podemos almejar e conseguir um papel cada vez maior de destaque em todas as áreas, sem precisarmos nos sujeitar à esteriotipos (jogador de futebol, músico, etc). É um exemplo de que depende apenas de nós pra conquistarmos o nosso espaço.

é isso, abraços!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Mutambização

Esse feriado eu fiquei sabendo que eu toco atabaque. Lógico que eu não sou muito bom, mas nínguem espera isso, nem mesmo eu, então tá ótimo.É um dos efeitos colaterais de Goiás, dessa Vila Boa que te muda todas as vezes que você a vê.

Hoje eu me sinto mais leve do que 4 dias atrás. Sinto que mudei um pouco as minhas concepções de mundo, sinto que ampliei os meus horizontes. Descobri que a sensibilidade pode ser amiga, que ser emotivo não é uma fraqueza, que eu sou feito de coração e cabeça, e não somente de cabeça (por mais que não é isso que eu goste). Aprendi que ficar calado às vezes é confortador, que vale mais um abraço do que uma torrente de palavras.

Essa "mutambização" da minha vida tem trazido uma paz e uma claridade de pensamento que nenhuma ansiedade, nenhum problema do mundo está conseguindo derrubar. Acho que é tudo fruto de dias em companhias espetaculares,cenários fascinantes, madrugadas perdidas por garrafas de cerveja, doses de cachaça e baforadas relaxantes, se perdendo pra poder se achar, enlokiquecendo pra recuperar a consciência no outro dia (ou pelo menos tentar). Aprendi nesses dias que toda manhã é a hora exata de decolar, sem se preocupar com o que os outros vão pensar, sem se preocupar com precisar aterrisar. Sem se preocupar com a morte ou a sorte.

Hoje eu não duvido mais que em Goiás neve. Porque aquela vila é mágica, além de ser boa. E com ela, junto com os grandes amigos que ela me deu, eu tenho outra visão. Hoje eu não duvido de quase mais nada. Hoje eu acredito em mim, mais do que tudo. Hoje eu acredito que minha sina é ser feliz, mesmo que o mundo não concorde com isso as vezes.Acredito que é possível sair de si, nem que seja por alguns dias.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Parede de Papelão

Oi.
Hoje vim falar sobre um filme que vi sábado passado. O novo de almodóvar, a pele que habito.
Já vou falando desde começo que esse texto deve ter alguns spoilers, mas é lógico que eu não vou contar tudo, certinho, até mesmo porque eu não lembro hehe. Quando eu for dar spoiler, eu escrevo #spoiler# e você que não viu, pula a parte (ou seja, o texto quase todo). Mas eu acho que é mais uma análise do que eu entendi do filme e do que eu considero cinema, então todos podem ler essa parte. Mesmo assim, é melhor que você tenha visto o filme, óbvio. Corre e vê.



Bem, eu não sou muito daquelas pessoas que curtem um filme porque o diretor é foda, conhecido ou simplesmente porque o lisandro nogueira falou que é legal. Geralmente a primeira coisa que eu julgo em um filme é a foto do cartaz. Se tiver uma foto legal, uma imagem contundente, é provável que o filme seja legal. A segunda coisa eu acho que é a quantidade de salas dubladas que o filme tem. Sim, quanto mais salas dubladas, mais forte é o sinal de que o filme é uma grande merda. E o terceiro sinal(não é bem um sinal, mas um atestado de que eu gosto muito de cinema) é que tento ver o maior número possível de filmes, mesmo que alguns pareçam ruins. Pra isso eu não preciso gastar milhões, já que sou um inveterado frequentador assíduo de cinemas do centro. Eu odeio cinema de shopping, suas filas, seus frequentadores formados por alunos de colégios particulares querendo matar aula e comendo lanche do bob's. Eu gosto mesmo é de cinema antigo, de sala grande, com ar condicionado mais ou menos, pipoca barata e, o mais importante, ingressos de menos de 2 dígitos. Mas isso é assunto pra outro post.

Pra mim, cinema é a arte mais expressiva, de certa forma, no sentido de que em 2 horas mais ou menos uma pessoa consegue te contar uma história, as vezes tão cheia de nuances e de intertexto que nem um livro, um quadro ou uma foto ou até mesmo um quadrinho conseguiria passar. Esse intertexto, nuances e detalhamento ocorre quando o filme é bom, óbvio. Quando o filme é ruim, o cineasta gasta mais ou menos 2 horas tentando te convencer a ver outros filmes dele,gastar dinheiro com a franquia, etc. E na maioria das vezes esse convencimento vem de emoções fajutas, cenas rápidas e atores de hollywood.

Bem, voltando ao almodóvar, esse filme é um bom filme. O intertexto dele e a capacidade de contar uma história numa linearidade bem fiel ao cinema é uma coisa incrível. Sabe quando você entra na sala de cinema e o filme te enfeitiça ? Então. Eu devo tá fazendo uma propaganda absurda desse filme, mas eu juro que não tô recebendo nada por isso. Mas é que eu sai de lá pensando tanto em como ele deve ter construído aquele filme que eu posso te dar certeza que parte de mim ficou naquele filme (#spoiler# e não foi meu pênis #spoiler#)

Primeiramente, #spoiler# o modo como o começo do filme distoa do final do filme é absurdamente legal. Porque no começo do filme a Vera é simplesmente uma pessoa presa numa casa (e uma baita casa, que tem até laboratório no porão e cavernas pra prender seus inimigos pessoais), no meio se torna uma vítima de sequestro e no final se torna, momentaneamente, uma pessoa que quer estar ali. É o cúmulo da sindrome de estocolmo aquele negócio.

Segundamente (se é que isso existe), é interessante ver a mudança do doutor lá que eu esqueci o nome, o antonio banderas. Desde o começo do filme fica latente que ele não é normal. Mas no começo do filme eu achava que ele era um médico antiético que tava testando pele em uma cobaia VOLUNTÁRIA. Depois eu fico sabendo que a cobaia não era voluntária. Depois eu fiquei sabendo que não era pele, era o corpo TODO. Depois eu fiquei sabendo que ele transava com essa cobaia porque a cara dela parecia da mulher dele que MORREU. Ou seja, esse cara é um maluco na mais plena acepção do termo. E antes de ser contada a história do Vicente, eu achei que ele era ainda mais maluco, já que eu pensei que a Vera era a FILHA dele, que tinha se queimado, sei la, e ele tirou a memória dela.Convenhamos, trocar o rosto da sua filha pelo rosto da mãe dela pra transar e prender ela num quarto cheio de câmeras é bem mais bizarro do que sequestrar um cara, cortar o pinto dele e praticamente transformar ele na sua falecida esposa. Ou não ?

Terceiramente, e fechando o ciclo das personagens principais, a velhinha me chocou pela ideia de que tem gente que realmente faz aquilo. Tem gente que realmente fecha os olhos pras sacanagens que as pessoas amadas fazem porque não conseguem viver com a falta que elas proporcionam. No meu dicionário, o nome disso é fraqueza. #spoiler#

Resumindo o filme, sem spoilers: Todo mundo ali é bem maluco. Aquele filme é bem maluco, ele te deixa meio que com um nó no cerébro, de tanto esforçar pra entender as
maluquices do maluco do Almodóvar. Mas qual é o sentido de ver um filme só pra ver porrada e carros virando robôs alienigenas sem muita explicação lógica(essa ultima foi pra você @joia_rioshi)? Que venha mais filmes assim, nem que seja no bouganville e suas paredes de papelão que me obrigam a ouvir o som do filme da sala do lado (já falei que odeio cinema de shopping ?)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Aprendendo

Um dos grandes pontos em que tenho pensado e que tem mudado a minha experiência de vida, essa viagem sem rumo, é a capacidade (ou não) de se expressar.
Afinal qual é o sentido em pensar, em sentir, em até mesmo não pensar e fazer merda se você não consegue expressar esse infinito momentozinho em que as coisas ficam compreendidas dentro da sua cabeça ?

O sentido das coisas está no modo como elas são ditas. O que diferencia o palavrão do afeto é a expressão, nem sempre a presença de sentimento ou não. O sentimento, o pensamento, o espírito da coisa ajuda, mas não é o decisivo na troca de mensagens.

Acho que a maior parte dos arrependimentos que tenho, seja de coisas boas ou ruins que eu fiz, vieram dessa falta de manejo com a tal da expressão. Já teve muitos momentos que a falta disso pesou. Mas acredito no aprendizado que isso dá.

Se me perguntarem o que eu desejo aprender nesse momento, eu falaria que é aprender a me expressar, a falar o que penso, sinto, não penso ou não sinto. Acho que esse blog cumpre esses anseios por uma faceta, apesar de não suprir totalmente a expressão. Mas é um espaço bom pra quem quiser saber o que se passa dentro da minha vida, minha experiência, atropelos e (algumas vezes) conquistas.

Seja bem vindo, puxa uma cadeira e veja o mundo junto comigo. Tomara que eu consiga te ajudar a crescer enquanto me ajudo com essa dificil tarefa da expressão (: