sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Azul


Colorindo essa amizade, vários tons já me passaram a cabeça.
Já entristeci no cinza de alguns dias nebulosos que surgiram.
Me alegrei por saber do verde da nossa mente.

Já me surpreendeu o vermelho, vivo. Da paixão. Do orixá.
E tem até mesmo aquela cor acobreada, da terra do cerrado, onde em você eu tudo vi.
Gosto do contraste de preto e branco no toque das nossas peles.
E até hoje sonho com a cor de mel dos seus olhos.

Mas meu amor não faço com nenhuma dessas cores. É azul, da cor de um céu sem nuvens, do céu de um dia sem chuva.
Azul plácido de um mar sem tempestade, como já cantou o tom, o djavan e o tim.
Assim é nosso amor, é de sossego, é de tranquilidade. Reconfortante.
É da leveza incomum de uma brisa paciente. Descompromissada, porém consciente.
Somos cabeças em nuvens, agora vivemos a sabor (e a cor) do vento.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Espero


Algumas coisas não são medidas em tempo, não tem como simplesmente passar ou esquecer.
Ainda me lembro.
E às vezes fico triste e me dói por saber como a vida pode ser bem confusa, e até mesmo cruel.
Quando se sente, algo insiste em fugir. Mas quando tudo está certo, tudo não parece realmente bem.

Com você eu sinto faíscas. E é isso que me faz acreditar que um dia em que você estará aqui comigo.
Ainda me lembro dos seus olhos e eu me lembro de como eu me senti.
Eu me lembro da sensação que nosso abraço, somente o nosso, tinha.
Eu me lembro do beijo.

Eu já me cansei desse samba atravessado, desse vazio que sinto quando não consigo, por muito tempo, nem um vislumbre seu.
Cansei de pensar em esquecer e tudo o que vem é a sensação boa de ter-te, pelo menos no peito.
Se tem algo que já aconteceu, foi isso. Me mudou. O que eu era antes, o que eu já tinha sentido, nada foi igual.
Eu já te incluo nos meus planos.

Na maior sinceridade eu digo que você foi uma das melhores coisas que me aconteceram.
Se foi no tempo certo, se um dia eu ainda vou me orgulhar de tudo o que fiz, não sei. Mas está sendo ótimo aprender.
Em um momento em que eu já pensava que tinha visto tudo, que pensava que não havia esperança, alguém me fez ver que sempre há algo melhor pra frente.
Você foi a surpresa que fez com que eu soubesse que há aqui dentro, ainda, um coração.

Tem um filme, provável que você conheça, que diz:
"Nós nos conhecemos no tempo errado. É isso que eu mantenho me dizendo sempre.
Talvez um dia, há anos de agora, nós nos encontraremos em um café em algum lugar de uma cidade longe daqui,
e nós poderemos tentar novamente".
Quando o dia chegar, quando tudo o que precisar acontecer finalmente passar, tomara que você ainda lembre que eu sempre vou pensar em você.
Eu não vou a lugar nenhum, eu espero.
E espero que o destino seja mais feliz dali pra frente.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Rua

Mais do que saber acadêmico, é necessário gente que saiba e que sinta os anseios que vem do povo, dos desprovidos, o anseio dos forte que, muitas vezes, não valorizamos. Não se molda seres humanos numa carteira.
Há de se ter um bom coração, doce.

A voz dos silenciados de cada esquina que percorro, é a minha voz. É essa a minha vontade de gritar, a sensação de ser um deles é a que eu, mais fortemente, sinto.
De que vale a "enciclopedicação" por si mesma se falta alma, a amplitude que é saber o que aflige o outro ?

Minha escola foi ouvir os velhos contarem a sua história, minha faculdade foi saber o que se passa pela cabeça dos pedintes, das putas, do bêbados, dos ladrões, dos sem teto.
Escrevo com orgulho no meu currículo: sou pós-graduado numa mesa de buteco, numa roda de samba, na hospitalidade de quem não tem nem pra si, doutorei na gratidão de não desprezar ninguém.

O que me tira o sono são os choros daqueles que nada tem. Minhas lágrimas são deles, e as verto por eles, somente. Eu ainda sonho em mudar o mundo.
Minha história é a deles, do seu sofrimento.
O meu livro é a rua, a minha biblioteca é o mundo.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Nunca


Te escrevi algo, e isso está sendo recorrente, mas você não vai ler, nunca.
Não vai porque ando falando demais, escrevendo demais.
Porque tenho pensado demais, porque tudo está sendo demais e esse provável exagero já me cansa.
Nem sempre estar feliz é sinal de que tudo vai bem. Às vezes é só comodismo mesmo. Será ?

Não vai ler porque preciso aprender que me expressar pode até ser bom, mas nunca é agradável. Principalmente pra mim.
Nunca vai porque as suas respostas não andam tendo a mesma velocidade das minhas perguntas, e isso me confunde.
Confunde porque eu sempre quero mais, porque eu sou sincero, visceral, intempestivo, emocional. Em resumo, porque eu sou um chato.
Não vai ler porque tem que se trancar algo, não é bom deixar o coração voar tão leve por aí. Solto.

Você nunca vai ler. Só quando tudo isso passar. Amanhã, talvez. Hoje mais tarde. Se você pedir. Se eu não conseguir segurar, quem sabe.
Mas vai ser no momento em que ainda ressoar, confirmando, a vontade de te dizer tudo aquilo que o coração esperneia, contorce e grita, mas a cabeça não acompanha, insistindo em dizer que a dor pode ser grande demais.
Se todo o problema fosse medo de se entregar, de talvez ter que aguentar a dor, seria fácil demais. Já aprendi a lidar.
Não tenho medo de sentir, seja o que for, mas tenho medo de estar só.

domingo, 25 de novembro de 2012

Sobra


Não tenho medo do que falta, mas temo o que sobra.
Vai sobrar gente que eu não vou poder conhecer.
Vão sobrar lugares que eu nunca vou poder ver.
Vão sobrar cafés, cervejas, cachaças que eu não vou degustar.
Sempre sobram aquelas horinhas no fim do dia onde não dá pra fazer nada.
Já sobram aqueles livros que eu comprei e nunca tenho tempo pra ler.
Sobram também aquele vinis que eu comprei no Rio e sempre não dá pra ouvir.
Eu talvez nem faça falta, mas vai sobrar um lugar na mesa.
Sobra saudades da pequena. Sobra vontade daquele beijo que eu nunca vou esquecer.
Não que sempre faltem abraços, mas às vezes parece que sobram braços.
Sempre parece que não me falta o tempo, mas que me sobram as oportunidades, as vontades.
Ainda sobra algo aqui dentro.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Giro


O mundo gira.
Independente dos bons ou dos maus (dias ou gentes),
do seu cinismo ou da sua alegria,
lá vai ele girando, incólume, íntegro. Impávido.
Não há muito que você possa fazer quanto a isso. Exatamente nada.
Alguns lamentam, outros aproveitam, todos passam.
Hoje nós somos, algo ou pouco, mas amanhã nem isso. Dividido entre choro e aplausos.

O tempo passa, mas isso não diz que as coisas mudam.
As aparências variam, os cenários mudam, mas na essência ainda "somos como nossos pais".
Vivemos no mesmo mundo sem heróis,
ainda continuamos preenchendo nossos vazios existenciais, às vezes com as mesmas coisas.
Vivendo em mundo com muita ideologia, mas pouco ideal verdadeiro. No mesmo mundo.
Talvez você até argumente coisas como dizer que as crianças de antes eram menos desrespeitosas e os velhos mais reclamões, mas você bem sabe que isso não é bem verdade.
Isso não passa de um glamour do passado, da sua nostalgia.
Mas faz muito tempo que as coisas não mudam de verdade.
O mundo ainda gira, no mesmo modo. Impávido define bem.
Até me conforta (pouco) saber que ainda há coisas imutáveis.

Tudo continua o mesmo.
Sua insatisfação não é dos erros, e sim do pouco que você conseguiu apreender desse giro todo.
A graça não se perdeu no mundo, mas se perdeu em você.
O seu desgosto vem de dentro, e não de fora.
Que culpa tem o mundo, se ele continua fazendo o que sempre fez ?
Não há sombra de dúvida no seu humor, nem inconstância nas suas afirmações. Diferente de você.
Há de se adaptar, há de tentar mudar. Ser melhor, não se prender, se deixar levar, girar junto.
Repensar, reafirmar, realizar, respirar.
Ainda há outras coisas para se ver, ainda há sensações diferentes, lugares, ideias, pessoas.
Ainda há tanto em você pra se construir.

Ainda há proveito, a vida é curta.
Às vezes dura muito, mas nunca o bastante.
Com todos, e é sério quando digo todos, se morre com algo preso,
com mais alguma coisa a ser realizadas, com um sonho escondido lá no fundo,
esses sonhos que só precisavam de mais um dia, uma hora, mais um pouco de vida.
Me incomoda como ainda há tantas coisas que não saíram do papel. Frustrante.
A morte é, como o tempo, implacável.
Uma questão de "quando", uma pergunta sempre com resposta.
Um ciclo fechado de um pequeno giro do mundo, mas não tão importante pra todos os outros. Viva!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Destino


Só da felicidade já sentida pode se entristecer.
É quase uma condição necessária essa dualidade, o contraste e oposição, que são como irmãs gêmeas a manipular as marionetes que são nossos corações.
Hoje eu acordei novamente procurando o erro, tentando encontrar algum tipo de porquê, como seria racional fazer. Mas pra que fingir que eu sou racional quando há de se aceitar as manobras que a vida as vezes faz, as peças que o destino prega.

Não escolhi a tristeza hoje, mas me submeto.
Não posso ficar feliz quando certas coisas acontecem sem que seja possível pelo menos uma escolha minha.
Há de se concordar que às vezes o desenrolar das coisas desaba em situações onde ninguém tem culpa pelo amor que não aconteceu, pela dor que fica, e eu considero mais doloroso quando é assim.

Hoje você se foi, mas aqui dentro a vontade é que não. Não sei se vai feliz ou triste, não sei se mais confusa do que nunca ou se já com a clareza necessária, não sei se se sentindo livre ou somente com esperanças de melhoras.
E quando você foi, aqui dentro sobrou saudade, até mesmo do que nunca sequer existiu.
De você, eu guardo as lembranças mais ternas, até mesmo na cena de cinema que foi o "fim".
Espero que não tenha fim. Espero, principalmente, que o fim não seja esse.
Meu coração teima em não esquecer, em querer lutar, em querer, que seja, sofrer.
Minha esperança é que esse dias não sejam de "adeus", mas de "até breve".
Meu peito ainda não desistiu de tudo que eu senti em tão pouco tempo, mas de maneira tão única.
Hoje eu entristeço, mas só porque já estive feliz. É isso que eu quero guardar de tudo isso.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Moinho


O mundo é moinho.
Como tal se começa, em semente, cheio, intacto.
Os dias, as pessoas, as coisas passam e a vida vai se mostrando o moinho que é,
os sonhos vem e logo vão, os planos falham, as ideias mudam.
E em recaídas e em levantes vamos caminhando, não sabendo exatamente pra onde.
A vida vai lapidando ao mesmo tempo em que também vai gastando. Nem boa ou ruim, só verdadeira.
Gasta de tal modo que quando se olha pra trás não se percebe o quanto se mudou no tempo.
E de mudanças em mudanças vamos criando o que somos, ignorando, amando, festejando e chorando.
E no final de cada dia se chega menor, mais cansado, triturado. Porém, mais puro, mais essencial.

sábado, 10 de novembro de 2012

Escolhas


Algumas coisas não podem ser escolhidas.
Na verdade, eu penso que a grande parte não pode.
Porém isso não define as coisas como ruins ou boas.Nem me considero sábio o bastante pra fazer esse tipo de juízo de valor.
Uma dessas coisas que não escolhe, com certeza, foi gostar de você. Ainda mais em tão pouco tempo e desse modo.
Gosto de pensar em você como um presente que a vida me deu, e isso me deixa menos confuso. Como me disse um amigo: "Tudo isso tá sendo intenso e conturbado, mas tá sendo como sua vida sempre foi".
Penso em você como um presente porque já vejo os reflexos do impacto que você fez por aqui.
Lembro do seu sorriso e isso já melhora o meu dia. Lembro de tudo o que você me disse e meu coração se torna menos duro.
É bom ter um coração de carne novamente, mesmo que eventualmente sangre.

Já algumas coisas se escolhe, mas as escolhas quase nunca são fáceis.
Uma das escolhas que eu considero fácil, é escolher a si mesmo. É fácil tirar o corpo fora, pensar no que é melhor pra mim. Isso não torna as pessoas melhores, só demonstra infantilidade.
Há de se considerar que as suas escolhas afetam todo o restante da sua vida. E ainda pior, afeta a vida dos outros.
É aquele papo de que suas ações ecoam por todo o universo, o que eu considero bem verdade.
Se eu estivesse em qualquer outro lugar, a qualquer outra hora, com quaisquer outras pessoas, eu não estaria escrevendo agora para você. Talvez nunca tivesse te conhecido, talvez nunca iria.Tudo fruto das minhas escolhas.

Já que a vida é feita tanto de escolhas, apesar dos acasos, eu já escolhi.
Eu escolho viver no hoje, mas não somente. Eu escolhi sonhar com o amanhã.
Eu escolhi olhar pro meu passado com saudade e ternura e não com dor ou arrependimento, e eu considero que todo passado pode conter bem ambas as coisas.
Eu escolhi ser transparente, não deixar meus erros escondidos. Eu escolhi ser humilde o bastante para aprender com esses erros, uma escolha feita com negação e conflito, como a maioria das boas escolhas são.
Eu escolhi me expressar escrevendo, mesmo que as vezes doa, eu escolhi a sinceridade. Isso mostra bem como algumas coisas precisam ser "abraçadas", apesar de serem determinadas por um dom, por um destino.
Eu escolhi ser flexível, ser aberto ao novo. Escolhi poder começar minha vida do zero a qualquer momento. Isso me dá a liberdade que necessito.
E hoje eu escolho gostar de você, apesar disso ter sido determinado pelo meu coração na sequência imprevisível de tantos fatos.
Eu escolho gostar de você de olhos fechados, mesmo sem saber se vou ser escolhido.
Hoje eu escolho as borboletas no estômago, escolho a inspiração, escolho confiar em alguém.
Escolho deixar o coração bater mais forte, mesmo não te conhecendo tão bem, mas sentindo uma vontade quase desnorteante de conhecer.
E escolho porque confio nos meus ideais e nos meus sentimentos. Sei o que acontece quanto perco os adjetivos, os advérbios, os substantivos e todo o resto: eu já me derreti.
Escolho porque, mesmo que equivocado, não há como deixar certas coisas passarem. E minha atual vontade de viver é mais forte que minha razão. O que eu sinto por você consegue ser mais forte até que eu mesmo.

domingo, 4 de novembro de 2012

Pasárgada

Antes que alguém pense que eu tô inventando alguma coisa, eu simplesmente li o texto do Bandeira e escrevi o que eu entendi de lá. Pode chamar de paródia, mas pra mim é tipo uma resenha. No mais, foda-se se não gostar e achar uma putaria sem tamanho. Poesia não é essa viadagem toda que cê pensa não, flw.



Vou-me embora pra pasárgada,
não sei onde fica, não sei se existe de verdade ou se é da imaginação desse Manuel.
Só sei que o rei de lá é meu brother.
Lá quem eu apontar vai transar comigo,
e a cama sou eu quem decido.
E só por isso eu vou pra lá.

Vou lá pra pasárgada,
porque aqui é uma merda.
Lá eu vou poder fazer o que quiser,
Lá vai ser o que eu sempre quis.

Não vou fazer nenhuma daquelas viadagens que o Manuel falou que faria.
Eu vou mesmo é ficar deitado na rede, bebendo cerveja e escolhendo as moças.
Se lá eu posso escolher qualquer uma, como o rei diz, porque eu vou precisar andar de bicicleta mesmo ?

Em pasárgada tem tudo.
Tanto tem tudo que pode parecer abu dhabi, pode parecer shopping center, a cômoda da sua vó.
Mas não, é pasárgada.
Lá tem camisinha.
Lá tem celular.
Lá tem cocaína.
Lá tem uma putas boas, bonitas e baratas pra gente esquecer das vagabundas daqui.

E quando eu estiver no fundo do poço,
e tudo que eu pensar é em colocar uma bala no meio da minha testa,
eu vou escolher outra menina, e ela vai transar comigo. E na cama que eu escolher.
Porque o rei manda naquela porra toda. E ele é meu brother.
Por isso que eu vou pra pasárgada. Esse tal de Manuel manja das putaria.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Terra Brasilis


*Em homenagem ao grande amigo Milton, por me incentivar a rimar.

Algum dia teria que surgir,
um Baden, um Toquinho,
um Pixinguinha, um Jair.

Do morro, sem grana, sem escola
Teria que vir um Bezerra, um Martinho,
um Mussum, um Cartola.

Som vindo direto do apartamento de Nara Leão,
que inundou o Brasil e brasileiros inteiros, do Sul ao Norte
do Rio à Recife, com Science e sua Nação.

Música do peito efervescente dos Mutantes e de sua psicodelia
Que retrata o rosto do povo brasileiro,
Que ainda tem todos os dias a força de caetanear cantando alegria, alegria.

Cultura com João Gilberto exportada,
e, como uma herança, com Bebel, preservada.
Nas mãos de Sérgio Mendes mais do que celebrada.

Antropafageando, Gil conseguiu colocar no mapa do mundo o sertão
Somando forças com Valença, Fagner e Zé Ramalho
E, obviamente, nosso Gonzaga, rei do baião.

Das loucuras de um Zé, se tirou o Tom
Da revolução de Amarante, Camelo, Medina e Barba, descobrimos que de bandas, forma-se irmãos
Da genialidade de um Ney Matogrosso, aprendemos que rebolar pode ser um dom

Ao som de Clara Nunes, quantos de nós já sambamos ?
Aproveitamos a paz de se ouvir um Djavan, rimos com a Saudosa Maloca de Adoniran
Viajamos pela nossa cultura e pelo mundo ao som dos Novos Baianos

Já choramos com Milton Nascimento,
já protestamos com Vandré e Belchior
Exilados com Chico, de olhados embotados de lágrimas e cimento.

Não só de samba vivemos, o Brasil não é só de tamborim e violão
Ode ao Aborto Elétrico na cidade de concreto feita pelo Niemeyer
Felicidade em lembrar de Cazuza e seu Barão.

Encerro com homenagens ao Jobim, o nosso maestro-mor
À força da voz ainda viva de Elis
Sem me esquecer de aplaudir Ben Jor.


sábado, 29 de setembro de 2012

Weight


Pareço um rascunho do que um dia já fui.
E posso colocar a culpa em tudo, em cada um, em todos,
Mas quem está me destruindo sou eu. Orgulho.

Blasfemo contra os céus, discuto bem sobre a hipocrisia.
Ópio distorce, mas dura pouco. No dia seguinte tudo vem à tona.
Falo muito, dramatizo, mas tudo é infantil demais.

Já não me valem palavras, já não me vale inteligência.
Sentimentos são jogados ao vento e nunca fecundam.
A única sensação é de cansaço. É tão difícil chorar depois de tanto tempo.

Sorriso, falso. Amizades, vazias. Abandono sentido na pele.
Pensamentos já foram um tipo de porto seguro, mas agora só se tornam sombras de desespero.
Já sinto o frio. Só me resta estar só.

De que vale ganhar o mundo e perder sua alma ?
Mas também de que vale ter alma, se tudo que o mundo quer é que você a perca ?
Como se ganha o mundo sendo você mesmo ? Seria mais fácil ser um desses, é mais fácil ser qualquer um.

"The love you take is equal the love you make".
Já que os beatles não mentem, sou eu que minto.
De amor eu só devo saber a definição de dicionário e a inspiração de algumas canções.

Hoje a sensação é de morte prematura. Hoje as feridas doem.
Hoje só queria um minuto de alívio. Hoje o peso é maior que a força.
"Boy, you gonna carry that weight for long time"

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sobre a Poesia - Vínicius de Moraes


"Um monte de tijolos é um monte de tijolos. Não existe nele beleza específica. Mas uma casa pode ser bela, se o projeto de um bom arquiteto tiver a estruturá-lo os cálculos de um bom engenheiro e a vigilância de um bom construtor no sentido do bom acabamento, por um bom operário, do trabalho em execução.
Troquem-se tijolos por palavras, ponha-se o poeta, subjetivamente, na quádrupla função de arquiteto, engenheiro, construtor e operário, e aí tendes o que é poesia. A comparação pode parecer orgulhosa, do ponto de vista do poeta, mas, muito pelo contrário, ela me parece colocar a poesia em sua real posição diante das outras artes: a da verdadeira humildade.

O material do poeta é a vida, e só a vida, com tudo que ela tem de sórdido e de sublime. Seu instrumento é a palavra. Sua função é a de ser expressão verbal rítmica ao mundo informe de sensações, sentimentos e pressentimentos dos outros com relação a tudo o que existe ou é passível de existência no mundo mágico da imaginação. Seu único dever é fazê-lo da maneira mais bela, simples e comunicativa possível, do contrário ele não será nunca um bom poeta, mas um mero lucubrador de versos. (...)

Individualmente, o poeta é, ai dele, um ser em constante busca do absoluto e, socialmente, um permanente revoltado. Daí não haver por que estranhar o fato de ser a poesia, para efeitos domésticos, a filha pobre na família das artes, e um elemento de perturbação da ordem dentro da sociedade tal como esta constituída. (...)

Para o burguês comum a poesia não é coisa que se possa trocar usualmente por dinheiro, pendurar na parede como um quadro, colocar num jardim como uma escultura, pôr num toca-discos como uma sinfonia, transportar para a tela como um conto, uma novela ou um romance, nem encenar, como um roteiro cinematográfico, um balé ou uma peça de teatro. (...) Por isso me parece que a maior beleza dessa arte modesta e heroica seja a sua aparente inutilidade. Isso dá ao verdadeiro poeta forças para jamais se comprometer com os donos da vida. Seu único patrão é a própria vida: a vida dos homens em sua longa luta contra a natureza e contra si mesmos para se realizarem em amor e tranquilidade."


Genialmente, Vinícius de Moraes. Tenho orgulho e humildade em escrever minha vida escrevendo, ou pelo menos tentando, e me tornando mais um poeta, mesmo que nem próximo de sua tamanha capacidade de ver e se alimentar da vida, transferindo-a, com a devida emoção e simplicidade, para versos lindamente escritos.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Brutais.


Vivemos em mundo violento, e isso não é novidade pra nínguem.Basta um passeio por uma grande cidade - e cada mais por cidades médias e pequenas - pra vermos que nosso mundo é marcado por grades, cercas elétricas, cadeados cada vez maiores, vigilância onipresente e tantos outros aparatos que nos dão, pelo menos, a ilusão de segurança.Além do medo que temos das outras pessoas, o mundo por si só é um lugar absurdamente hostil, e aprendemos isso desde pequeno. Raios, inundações, secas, pragas, furacões, maremotos, terremotos, animais selvagens. Taí o discovery channel pra não me deixar mentir: o nosso planeta é de dar medo. E hoje em dia eu vejo cada vez mais que a cara da nossa sociedade é a do medo. Só falta nos lembrar de que o mundo sempre foi perigoso, a violência sempre fez parte da história da humanidade, até mais do que hoje. Mas cá estamos e amanhã, como humanidade, estaremos.

Antes que pensem, eu não pensei em escrever esse texto como uma crítica nem ao nosso planeta nem ao nosso débil sistema de segurança. Acho que o propósito foi refletir que, apesar de todos esses perigos, o pior não é o que está "fora do mundo" e sim "dentro de nós". O meu maior medo não é das catastrófes, mas sim dos pensamentos imperiosos de intolerância e preconceito. Meu medo é o ódio que o ser humano tem, desde sempre e em todos os lugares, como herança comum. Pensei o texto quando refletia sobre as demonstrações de extremismo que vemos nesses últimos dias no mundo árabe, tudo fruto de uma reação a uma violência que surgiu do nosso mundo, do pensamento ocidental. Nós achamos tão certo em criticá-los pela selvageria, que é realmente é condenável, enquanto não pensamos que essa "selvageria" (sim, aqui coloco aspas) não é de toda desmedida.

Considero a violência que foi feita a eles maior do que a que ele fizeram como reação. Não entro nos méritos das manobras que os poderosos daquela parte do mundo fazem com os mais frágeis e susceptíveis que os ouvem e obedecem. Seria ingenuidade pensar que tudo aquilo (a destruição de embaixadas, a queima de bandeiras americanas e de biblías, a morte de funcionários inocentes de uma representação do nosso modo de vida ali, toda a violência estampada nos jornais e televisões do mundo durante essa semana), tudo isso, como fruto de um pensamento, de uma ambição coletiva. Esses pensamentos coletivos já foram tão raros que eu duvido que ainda existam. Os "protestos" que vimos por essa semana são manipulações de gente que usa a falta de instrução daquela população, carente e devota a leis e a uma religiosidade, levando- os a obedecer certos dogmas sem questionar. Porém os méritos da revolta deles podem ser resgatados em outro texto. Esse tem como objetivo dizer que o modo como eles foram tratados e como os olhamos é a verdadeira violência. Por trás da nosso hipocrisia, das nossas palavras bonitas e do nosso sentimento de pertencermos a uma elite da humanidade, nós, ocidente, os colocamos como bárbaros, como ignorantes, como estúpidos ajoelhados frente à nossa suprema e magnífica soberania e sabedoria. Fazemos piadas de seus hábitos, de seus modos e vestimentas, de suas tradições e até da sua arreigada religião, que pra nós não passa de loucura, de enganação. Só nos esquecemos de olharmos no espelho e vermos que do lado de cá os erros não são tão diferentes, não somos tão "limpos", o telhado de vidro é enorme, apesar de fazermos de tudo para evitar mostrá-lo e quebrá-lo.

Enquanto milhares aqui lutaram, lutam e lutarão por direitos humanos e pela liberdade, continuamos a menosprezá-los. Eles e tantos outros. Em qualquer país que não fosse hipocríta com a sua moralidade, o filme onde o profeta deles é ridicularizado seria retirado do ar e o seus produtores e diretores presos, como manda a lei para crimes de ódio, como o racismo, machismo e a homofobia. Como é repugnante nos dias de hoje (não que não tenha antes sido, mas era aceitado por essa mesma moralidade hipócrita) fazermos um filme onde negros sejam colocados como seres inferiores, mulheres como simples objetos e homossexuais como aberrações, também é fazermos um filme que marginaliza grande parte da população mundial, chamando-os de ignorantes e estúpidos. Seja você religioso ou não, de que religião for, você não deveria colocar a sua "liberdade de expressão" à frente de qualquer coisa. À frente, principalmente, do respeito pela história de vida do outro, suas convicções e crenças. E não estamos falando só de uma pessoa, o que já seria o bastante, mas de cerca de 1/6 da humanidade. Eles não são tão minoria assim. Mas continuamos pisando.

Concluo com o desafio de pensarmos se realmente estamos seguros. Se realmente compensa lutarmos por nossos direitos e cumprirmos os nossos deveres diariamente, enquanto lá fora, não muito longe ali na esquina, e não só no oriente médio, as pessoas simplesmente continuam intolerantes e extremistas. Continuam pesando tudo em dois pesos e duas medidas. Do que adianta o seus anseio de liberdade ser cumprido sendo que toda uma cultura está sendo desprezada ? Do que adianta a luta por direitos dos seus iguais sendo que os seus diferentes estão sendo massacrados e você aplaude e fala: "Eles que começaram". Chega a ser infantil a nossa busca por segurança quando a verdadeira violência mora no coração do homem. É nesse momento em que eu penso: Tomara que Alá/Jeóva/Shiva/Jesus ou qualquer outro (ou até mesmo nenhum deles, mas a simples solidariedade e coerência do humanismo) tenha piedade de nós por sermos tão mesquinhos e ignorantes. E que possamos sobreviver pra um dia ver tudo isso apenas nos livros de história e dizermos: éramos brutais, mas melhoramos.

sábado, 1 de setembro de 2012

Felicidade Infeliz



Que felicidade é essa que precisa de instrumentos musicais tocando algo animadinho ?
Que felicidade é essa que necessita de copos de bebida, pulmões cheios de fumaça
que necessita de narizes entupidos, de veias vazias.

Que felicidade é essa que precisa de mais alguém pra acontecer. que precisa de uma, duas, dez ou mais camas diferentes (ou iguais) por mês ?
Que felicidade é essa que vem num motor de um carro, na hélice de um helicoptero, no leme de um barco ?
Que depende de uma torre de ferro e pedra, que apesar de segura e durável, um dia caí.
Que felicidade é essa que necessita rodas de buteco, reuniões da igreja, encontros num domingo a tarde no parque ?
Que felicidade é essa que precisa de um canudo de papel, de um aplauso, de um título frio gravado numa porta de uma sala, de um cubículo, de uma parede.

Que felicidade é essa que precisa de (bilhões de) cabos pra se conectar com um mundo irreal, onde se pode ser qualquer um e onde qualquer um pode ser alguém ?
Felicidade que vem de uma terra de sorrisos de plástico e de cabeças que, de tão vazias, nem mesmo se autocriticam. Um mundo onde o certo é a cópia, onde o bonito é "a espuma".
Que felicidade é essa que vem com um pedaço de papel, onde se tem a assinatura de um "homem importante" e um número.
Mais felicidade ainda se o número for 100, o papel for verde e a assinatura for em inglês.
Que felicidade é essa que vem de andar, ver, tocar, saborear o mundo todo e perder-se dentro de si mesmo quando deita a cabeça no travesseiro no seu próprio quarto.
Que se perde em não saber quem é e o que vai ser amanhã.

Que felicidade é essa em acreditar que existe algo ou alguém maior, intocável, de sabedoria insuperável e que você pode fazer parte disso se seguir o que esse algo/alguém lhe diz, "sem se desviar nem pra direita, nem pra esquerda".
Que felicidade é essa que necessita de algo, que não é feliz em si mesma, que não se completa nunca.
Que move guerras, que cria a morte em suas entranhas, que suscita discórdia, que afasta filhos e pais, amantes e amigos.
Felicidade que se torna vício na mais tenra infância, que contamina, que orienta, que regula, manda na vida..
Felicidade que dita. Felicidade ditadura. Ditadura de uma felicidade sem limites, sem fim, sem meios, sem propósito.
Onde ser feliz é ser alguém. Onde não sorrir é ser culpado. Onde dizer que está triste é se sentir fracassado.
Onde a vida tem que ser explosão, cores, ação. O sentimento é de pena, de dó.
Desgraçada felicidade infeliz.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Felicidade

Hoje me deu vontade de crescer.
Me imaginei velho, me imaginei totalmente diferente do que sou hoje.
E me perguntei se realmente eu vou ser totalmente diferente. Se o que eu sou hoje é definitivo.
Se o que sou hoje é o que eu sonhava pra mim.

Me deu vontade de ter uma casa, minha, de ter uma família, minha, de ter filhos.
Me deu vontade de ter a experiência de contar pra alguém: relaxa, eu já passei por isso.
Me deu vontade de apertar o botão de "forward" e passar logo dessa época, que apesar de tão prazerosa, é tão complicada do seu próprio modo.

E quando eu pensei no que eu quero de futuro, me deu saudades de você.
Me deu vontade de olhar de novo nesses olhos d'água, me deu vontade de te ter de novo nos meus braços.
Me deu saudade dos seus abraços, com seus braços pequenos tentando me confortar, me dar carinho.
Eu que parecia pros outros tão grande perto de você e eles nem sabiam que seu coração é muito maior do que eu. Me deu saudade dos "dias doces".
Me deu saudade do seu jeito carinhoso que só eu entendia. Do carinho que vinha acompanhado de tapas, mordidas e beliscões, e que pra mim era a maior demonstração de afeto possível.
Me deu arrependimento de não ter te tratado como a pedra preciosa que você é, de ter deixado os meus momentos difíceis inundar de aflições e ansiedades a ponte tão valiosa que tínhamos.
E quando eu percebi, tudo já havia perecido, e de nós não tinha sobrado muito além daquele nível de afeto que nunca vai se perder, do respeito que tenho por você já ter me roubado o coração do peito.
Além das lembranças e de muitas vontades, que talvez se tornem sonhos.

Me pergunto quantas chances ainda mais eu tenho de ser feliz, e todas as vezes ainda me respondo que é impossível contar as areias de uma praia ou as estrelas do céu.
"O meu futuro calculo dentro do passo". E caminho, pensando ou não, melhor ou não, contraditório várias vezes, mas caminho.
Em frente, cabeça erguida e peito cheio. Pra alguns, cheio de orgulho, mas pra mim, cheio de sonhos, de esperanças de na próxima esquina me tornar uma pessoa melhor, de encontrar mais um punhado de  felicidade.
E em qualquer esquina eu paro, em qualquer botequim, eu entro, e se houver motivo, é mais um samba, e um daqueles de ressuscitar a felicidade de se viver, que eu faço. E só volto depois que a saudade se afastar e se afastar. Pq hoje em dia parece tão difícil.

domingo, 12 de agosto de 2012

O Meu Olhar - Alberto Caeiro

"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...

Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num mal -me - quer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama 

Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar..."


- Quem me dera fosse meu, é do Alberto Caeiro ((:

sábado, 11 de agosto de 2012

Imortal

Músculos, ossos, tendões, sangue, pele, alma,
mais um dia sem nenhum arranhão,mais uma manhã, mais uma chance.
E desse lado de cá eu vou vivendo, não só existindo.
Desafiando os tapas que a vida dá e retribuindo na mesma medida,
"rindo da cara do perigo", escolhendo viver o mais livre possível que meu livre-arbítrio me permite.

Cabeça sempre leve, despreocupada com pressa, ocupada com a esperança, peito sempre cheio dela,
persistência, busca de sabedoria e sentimento de humildade em apreciar as pequenas coisas.
Decisões às vezes confusas, escolhas quase sempre equivocadas, quase nunca racional.
Palavras que servem mais como um nocaute do que como um chamego,
olhares de reprovação sobressaindo aos olhares de ternura.
Busca-se equilíbrio entre a intempestividade e a frieza, entre o toque e a palavra,
Busca-se consciência para ficar entre o não-ser vazio e o não-ser cheio de si.

Eu erro, eu caio, eu morro, eu acerto, eu levanto, eu faço o que quiser,
e faço tudo isso todos os dias. Mas não consigo me arranhar. Nunca me vejo arranhado.
E à tudo isso, às minhas ideias, aos meus atropelos, aos meus sonhos não guardados em caixinhas, eu agradeço, eu prometo, eu me emociono. E no fundo eu me acho imortal demais.

Apesar da minha cabeça saber que eu vou morrer a qualquer hora, em qualquer esquina, com qualquer pessoa, fazendo qualquer coisa, eu não me guardo em caixinhas.
Meu peito diz que eu vou viver pra sempre. Nem que eu tenha que renascer em cada poesia, em cada canção, em cada novo amigo. Tenho uma nova face a cada queda.
Eu não acredito em perda, nem de tempo, nem de gente, nem a minha própria. Na vida tudo se acha.
Poesia de ontem não me alivia, festa de ontem não me alegra, amigos de ontem não me bastam.
Eu sou o novo, eu tenho que ser inédito, imprevisível, inconquistável, impossível.
Nem que pra isso eu tenha que enterrar sonhos, pessoas, personalidades, a mim mesmo, a todo momento, como agora.

sábado, 28 de julho de 2012

Vivendo em risco.

Qual seria melhor: morrer fazendo o que se gosta ou viver numa zona de conforto por toda a vida ?
Até onde vai a paixao pela vida o bastante para poder arriscá-la ?
Digo que quem muito se guarda acaba se perdendo.
Na maioria das vezes, a necessidade primordial é de conhecer o mundo, as pessoas, os valores.

Por falar nisso, qual é o valor de uma vida ?
Ela vale o mesmo tanto aqui na Bolìvia, nos EUA, no Brasil, na Dinamarca ? Acredito fielmente que nao.
Me entristece pensar que poderia ser eu e tambem me dá o alívio de estar vivo pra escrever isso.
Me entristece ver como é corriqueira e até mesmo tratada de forma banal a morte por aqui.
Mas também me dá a necessidade de viver ao máximo.
Porque eu tenho certeza que elas morreram vendo o mundo de um lugar e de um modo único, e que vale a pena se arriscar a viver.

*Em homenagem às 3 bravas garotas (nacionalidade desconhecida) que se acidentaram e morreram no deserto de Siloil em Uyuni/Bolivia no dia 26/07/12. Parabéns pela coragem de nao se acomodarem.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Machu Picchu

Uma cidade em uma montanha, toda esculpida
Cercada de um abismo, com um rio caudaloso ao fundo
Protegida e abençoada por altissimas montanhas
De tudo que eu achava que era, na hora é toneladas de emoçao a mais, de experiencias, de esforço, paciencia.
Nao acredito que seja uma cidade perdida.
É uma cidade feita pra se achar.


Nao sei se foi o caminho ate aqui, marcado por fogo e ferro, pedra e gelo, floresta e vento, caminho duro e sofrido, talvez tudo isso seja sensaçao de merecimento.
Ou se foi o dia de hoje, persistencia que fez com que, como o veu de uma noiva, o dia tirasse as nuvens da cidade, descobrindo-a para mim. Somente para mim.
Talvez seja os ja grandes dias de solidao que me deram uma proteçao para as milhares de nacionalidades, etnias, rostos e linguas diferentes.
Mas hoje olho pra essa cidade, desse topo, e consigo ver cada degrau, cada janela, cada porta e parede. E imagino os sonhos que existiam por aqui.

O que mais queria agora era saber o que se pensava sobre esse colosso.
Qual era a ambiçao de cada construtor, de cada governante,
Como agia as crianças, se pulavam ou nao dos terraços, se brincavam nas escadas, se corriam pela praça central.
Como era o dia a dia de um povo que adorava o sol, a lua, o vento, a agua, as estrelas, as montanhas. De um povo que vivia em comunhao total com a natureza e a via como parceira e igual.
So me falta os detalhes, ja que o primordial eu ja sei. Me encontrei numa faceta que nunca tinha achado antes, me tornei um homem diferente e o marco foi hoje. Senti realmente uma energia diferente quando aqui pisei. É magico e pronto.



Wild Rover Hostel, Cuzco, 17/07/12 - 1:57, tentando digitar no escuro.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Liberdade

Fazer uma vida onde todos os dias sejam sexta-feira.
Construir a utopia de poder ver o sol nascer e se pôr todos os dias.
Sem pressa, com dedicação.
Com a transpiração de trabalho árduo e a inspiração da liberdade de mente.

Sinto a leveza de ter um corpo livre, totalmente meu, sem hipocrisias, sem limites.
Libertação das amarras de ter uma vida planejada, gostar de viver ao sabor do vento.
Sinto cada gosto como se fosse o melhor de todos, cada dia como se fosse o último, como se fosse realmente único.

Sonho em me preocupar mais com o essencial do que com números, contas, com hipocondria.
Me preocupar com o meu crescimento como ser humano e não com a possível interpretação que as pessoas dão pra meus atos e palavras.
Há de ser alguém melhor.

Tempo

Perde-se dinheiro, perde-se a vida, perde-se aquela correntinha de ouro que a tua vó te deu.
Mas me intriga como alguns ainda falam que se perde tempo.
O tempo pra mim parece tão cíclico, e ao mesmo tempo tão infinito, que o fim é mera especulação, e se acontecer é puro acaso, um segundo ou outro de azar.

Tempo é tão positivo que parece que só cresce, só amadurece, só se aprende, ganha-se a cada dia um grama a mais de sabedoria.
De alguma forma o tempo passando rejuvenesce.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Conforto

Essa ideias tem uns 3 ou 4 anos. As achei hoje, e acho que ainda faz um certo sentido, apesar do pessimismo:

"A vida humana não tem sentido.
Não existe uma meta real, não existe planos, não existe um destino.
Todas as metas pequenas são medíocres e as grandes sempre serão impossíveis, são retratos da nossa megalomania.
Os planos serão frustrados, algum dia.
A única solução, o único conforto é o alívio do pensamento,
o conhecer a si mesmo como ferramenta para conhecer o mundo.
É o alimento para uma vida satisfeita."

domingo, 24 de junho de 2012

Única


hoje eu quero te escrever, não só por causa da nossa conversa que aconteceu,
mas quero desentalar o que tenho aqui dentro, o que eu sinto, o que eu penso.
gosto de você de verdade, sem palavras as vezes, mas gosto demais. gosto de um jeito diferente. talvez de um jeito que seja só meu, mas é.

talvez você saiba como eu temo, como eu tremo, de te ver naqueles corredores,
porque eu tento te falar algo, eu tenho que te falar algo, e torço que esse algo não seja algo mau.
e digo cada "oi" e "tchau" e tento parece especial, é sei que é de um jeito único, é de um jeito meu.

você é unica pra mim. quero que você se lembre todos os dias, que se lembre especialmente disso do tempo que eu tiver fora, que eu estiver longe.
e eu quero te ver. e aquela insistência toda era pra isso. era só pura vontade, era só desejo de te ver.
respeito como você é, além disso, acho sensacional. só queria que você não me achasse falso,
mais um, desrespeitoso com o jeito que eu sei que você gosta de mim. não gostaria de ser mais um que diz coisas bonitas que parecem vazias. tenho a intenção de mostrar que cada letra vale.
mesmo que não seja tudo que você queira ouvir, é o que eu acho, é o que eu sinto, é o que bate no peito, o que eu priorizo, esse sou eu.
beijos, até mais sorrisos teus (((:

domingo, 10 de junho de 2012

Remorso.


tô cansado dos poréns, dos mas, do talvez.
cansa o modo de olhar a vida, com limites, planos e preocupações.
sendo que tudo parece tão simples quando se é livre pra sonhar e fazer o que quiser.
quando a liberdade que se tem, principalmente mental, é uma arma tão letal.

e faço, e caio, e morro.
e digo, e me arrependo, e corrijo.
e tento. acho que o resumo da minha vida em uma palavra poderia ser "tentativa".
mas nem sempre "acerto".

falo que pesa, falo que sinto todos os dias ainda mais forte as minhas limitações.
mas me conheço, sei o que tem por aí e o que tenho aqui. e sei que é forte.
sinto muito, sinto forte, breve, intenso e imprevisível. nem peço desculpas.
porque não me cabe escolher parar, não me cabe esperar, nem esquecer, é muito difícil não lembrar.

como uma chama de uma vela, eu vou passar quando um vento qualquer, um pouco maior, soprar.
porque a humanidade não depende de mim pra existir, porque dessa praia eu sou apenas mais um grão de areia. significo tão pouco nesse universo tão sem limites.
e quando eu passar, de mim vão sobrar histórias, vão sobrar sonhos, sobrar a saudade. sobrará muito.
só não vai sobrar arrependimento, remorso. te desejo o mesmo.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Domingo no Parque


Vamos nos sentar naquele parque, naquele banco, nessa noite fria
Sentir o vento inflar nossos pulmões, sentir o calor um do outro, as batidas do nosso coração contar as estrelas,
Fazermos juntos nossa história de amor, escrevermos nossa poesia.

Me conte se você gosta mais de gil ou de caetano,
Me fale sobre seus pais, seus irmãos, seus avós,
Me conta o que você quer fazer da vida, qual é teu plano.

Me deixe saber o que você pensa, o que se passa dentro da sua mente,
Me mostre qual é o caminho pro seu coração,
Me diga tudo o que você sente,
Quero saber se você é uma pessoa mais dos sentimentos ou se é da razão.

Me diga se você curte os santos, ou se é fã de lutero, ou se quer ir à meca ou se tem um orixá
Me fale se gosta de futebol, se assiste os jogos do flamengo, se também sonha em ir ao maracanã
Esclareça se gosta mais de sanduíche ou pizza, se prefere café a chá
Se já pensou se quer 2, 3, 10 filhos ou se deixou essas decisões pra amanhã.

Me diga que livros você mais gostou quando leu,
Quais os filmes que mais te tocou quando viu,
Me diga se ouve samba, se curte rock, se tem o mesmo gosto que o meu,
Se vê tevê, me diga os seriados que você mais riu.
Quero saber se você gosta mais do mar ou do sertão,
Se quer véu e grinalda ou se prefere um cartório,
Preciso saber se sente por mim o que sinto por você, ou não.

Temos muito tempo ainda, e se não tivessemos bastava atrasar o relógio em mais uma hora.
Porque algumas coisas não podem passar em branco, sem que eu saiba, aqui e agora.
Preciso viajar nas curvas do teu corpo, viajar nos cantos mais escondidos da sua mente, no armário do teu coração onde você guarda toda a dor e também toda a alegria.
Preciso sentir o seu perfume único, os olhos que sorriem, os lábios tenros, a voz doce, a pele macia.
Porque a sensação que tenho contigo é a mesma que encontrar no bolso de uma calça antiga uma nota que foi esquecida, sensação de surpresa, de nostalgia.
Porque parece que te conheço desde sempre, e cada minuto que passo longe parece que faz anos que não te via.

sábado, 26 de maio de 2012

Quem se define se limita, o cacete.


Oi, meu nome é Nícolas.
Eu tenho 20 anos, quase 21. Mas os últimos meses pareceram 10 anos.
Eu moro em goiânia e, surpreendentemente, eu gosto muito daqui. Digo surpreendentemente porque muita gente não gosta, mas eu acho um ótimo lugar pra se viver. Eu gosto tanto de goiânia que mal espero sair logo daqui e morrer de saudades.
Apesar de goiânia ser legal, várias coisas aqui atrapalham. Principalmente a mentalidade, as prioridades das pessoas por aqui.
Eu não tenho muitos planos, muito menos "prioridades" que pareçam muito geniais. Eu não me acho genial, mas também não me acho normal.
Quando eu era mais novo eu percebi que se fosse normal, ou pelo menos agisse assim, tudo seria mais fácil.
Pessoas normais não pensam sobre prioridades, pessoas normais não ficam decepcionadas consigo mesmas (mas sempre ficam decepcionadas com alguém, que deve ter errado), pessoas normais nem gastam tempo escrevendo coisas como essa. Pessoas normais pensam em crescer, reproduzir e morrer, com algumas coisas a mais no meio, mas que não valhem a pena dar atenção.
Mas de tentativa e erro, eu vi que não há como fugir do que você é. E eu não sou normal.
Eu não tenho planos de ganhar muito dinheiro. Na verdade, eu tenho planos de ganhar dinheiro sim, mas a minha definição de muito dinheiro deve ser diferente da sua. Muito dinheiro é dinheiro que fica guardado. Se você tem capacidade de guardar dinheiro pelo simples prazer de guardar, você tem muito. Pessoas normais guardam muito, não só dinheiro, mas tudo. E guardando, se perde. A imprevisibilidade pode ser boa.

Eu não quero ter uma casa toda cercada de seguranças. Eu não quero ter o carro do ano, apesar de gostar muito de carros (uma máquina magnifíca, mas deveriam saber que ela só serve pra te levar de um lugar pro outro, ela não te define). Eu não quero ter um "legado", não quero ter um busto meu em praça pública, um troféu na estante. Não preciso dessa masturbação mental de me achar bom por um diploma, por uma homenagem. Quem possui tudo isso morre, e quando morre vai pro mesmo buraco que quem não tem. Acredito que o que vale é o que você faz por aqui, por você.
Eu quero viajar o mundo, viajar pelas pessoas, viajar pela minha cabeça. Eu quero ter uma família, grande, quentinha e macia. Eu quero contar histórias pra eles. Eu me defino como uma pessoa que, de tão apaixonada por histórias, é um contador de histórias.

Eu quero apreciar arte, fazer arte, falar arte, viver arte. Quero que a arte faça tão parte da minha vida que um dia eu possa sentar numa mesa e definir pra alguém o que é arte. Não sei, e nem tenho a pretensão de pensar sobre isso, acho perca de tempo. Eu gosto de cinema, eu gosto de quadrinhos, eu gosto de livros, eu gosto de televisão, eu gosto de pintura, eu gosto de vandalismo, eu gosto de descontrução da realidade, eu gosto de música, eu gosto de psicodelia, eu gosto de ver o sol nascer, eu gosto das cores da natureza e gosto da sensação de velocidade da cidade, gosto dos traços característicos das pessoas, das diferenças de cores, de cheiros, de tons de voz. Eu acho tudo isso arte, e muito mais.
Eu penso, e penso, e penso novamente. E isso não é uma coisa boa. Porque cada vez que eu penso eu descubro que tudo parece tão acaso, a vida parece tão volútil, efêmero e isso tira dos meus pés as únicas coisas que eu acredito que são verdade.
Eu acredito em amizade, eu acredito em fidelidade, eu acredito em amor, eu acredito em Deus. Sim, eu sou um daqueles babacas, eu sou um sonhador.
Alias, já me chamaram de tanta coisa que eu não sou que hoje em dia eu sinto vontade de definir o que eu sou realmente, pra ver se fica menos nublado na minha cabeça.

Me chamam muito de pessimista ultimamente. Não sou pessimista, eu simplesmente não acredito nessa baboseira de "força do pensamento", "se você se esforçar muito, você consegue". Acredito na limitação do ser humano, que de tão pequeno e de tão frágil, pode transformar toda a sua mesquinhez em grandes coisas. Não que você deva desistir das coisas, mas acreditar que você é capaz de tudo é se enganar. É melhor dizer: "eu posso não ser capaz de tudo, mas vou viver minha vida pra descobrir o que eu sou e fazer o melhor disso". É mais sincero, na minha opinião.
Por falar em opinião, as vezes as pessoas me chamam de intransigente, dizem que eu não aceito as diferenças de pensamento. Eu não acho que concordar com você seja aceitar a sua forma de pensamento, não. Eu discordo, quase sempre, de quase tudo. Eu tenho um temperamento explosivo, sim. Mas eu não sou mal educado. Na maioria das vezes eu fico calado, no meu lugar. Palavras valem demais, machucam demais. Quem disse que elas são bonitas é um mentiroso. Palavras são ariscas, descontroladas. Por isso, eu falo das pessoas, eu trato as pessoas como eu gostaria de ser tratado, e raramente você vai me ver explodindo com alguém. E se acontecer, pode colocar a sua mão no fogo, essa pessoa fez algo que me ofendeu seriamente.
Eu me ofendo muito fácil, isso deve ser o meu maior defeito. Acho que por pensar tanto, eu penso demais nas coisas que não deveria, dou amplitude a cada momento, e alguns momentos são feitos pra serem escondidos, não ampliados. Várias vezes na vida eu já me vi decepcionado com coisas pequenas. Mas nada dura demais. Já me chamaram de sentimental, e eu acreditei. Mas hoje eu vejo que eu não sou realmente sentimental. Eu simplesmente vivo, de um modo intenso, profundo, talvez suicida e sem olhar pra trás. Eu tento viver cada segundo como se fosse o último, apesar de me atentar pra que minhas ações não "ecoem demais". Nínguem é obrigado a corrigir meus erros, eu guardo eles pra mim. Gente sentimental geralmente quer jogar suas aflições ao vento, se abrir, espalhar seus sentimentos. Eu não, eu os guardo pra mim quase sempre. Se você me ver "me abrindo" pra alguem, saiba que é raro. Nem tudo que se passa pela minha cabeça tem valor pra que seja falado pra alguém.

Eu não me acho uma pessoa que possui um valor intrinseco grande, uma pessoa que escreve, aja, fale, seja genial de alguma forma. Na maioria do tempo eu me acho mediocre, limitado e meio bobo. Eu me acho diferente, com uma personalidade única, marcante até, mas isso não quer dizer que eu seja mais do que sou, nem menos. Eu sou o que vocês estão vendo, eu dou a máxima transparência possível nas coisas que faço. Se escondo algo é porque eu não quero ver nínguem se ferindo.
A minha parte sonhadora acredita num mundo melhor, mais justo, onde o que se é valha mais do que toda a fumaça, a neblina, o engano que se mostra todos os dias na minha frente. Eu acredito em sinceridade, em verdade, em compaixão, em empatia. Onde nínguem se acha melhor que o outro. Não gosto de gente que fala muito de si, muito menos de gente que diminui os outros pra ser melhor. Gente que tem como lazer falar mal dos outros, eu passo longe.
Já me chamaram de deprimido, de timido, triste. Acho que passaram longe. Sou feliz do meu modo, com meus dilemas, crises e quedas, que na sua maioria acontecem na minha cabeça, nínguem nem vê. Não conseguiria apontar nínguem no mundo que é mais feliz do que eu, simplesmente porque não é uma coisa quantitativa. Acho absurdo essas escalas que as pessoas usam, e o modo. Isso torna tudo tão simétrico,quando não o é. Isso excluem pessoas meio "azuis". Acho que me definiria assim, sou meio blue.
Acho que de todo o esforço de me definir, poderia surgir páginas e páginas. Não porque é muita coisa, não que o que eu sou seja extenso, mas posso te dizer que é profundo, tão profundo que nem mesmo eu sei o que vai surgir na próxima esquina desse trajeto mental todo. Posso te dizer que independente do que seja, eu sou mais do que sonhei ser. E isso é uma esperança enorme, já que o amanhã pode me mostrar ainda mais.

domingo, 6 de maio de 2012

Speed of Sound

"They broke my heart, I broke all the laws.
They put a hole in my chest, now I put holes in the sky.
Lot of regrets, no expectations at all.
Missing, but not lost yet.

They try to live, I already died in the stairs.
Reborn.
Just me, shining dreams and a golden heart, but not a single fuck to give.
Believe, I'm not going to give you a chance to let me down.

I was born in a thunderstorm, I'm not afraid of the lightnings.
I'll keep losing, I'll keep winning, I'll keep not giving up of the beloved ones.
Don't stay so close, don't hold me back, don't try to keep up, I'm on the speed of sound."





Ao som de White Denim.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

ontem, hoje, e sempre.


hoje eu lembrei de você. e digo hoje como um modo de expressão.
"hoje" serve pra ontem, pra antes de ontem, pra meses atrás. e eu sei que provavelmente "hoje" vai servir pra amanhã e depois.
eu não sei que tipo de maluquice isso é, mas só sei que não é uma daquelas que passa pela cabeça e logo vai embora.
é daquelas boas, que deixa a gente pensando em como é bom viver, uma coisa meio mágica.
"que bom é ser fotografado pela retina desses olhos lindos. me deixe hipnotizado pra acabar de vez com essa disritmia"

acredite, te dizer de novo que quero essa sua paz pra mim, é tão bom.
e relembrar o que passou me faz bem.
como um vento forte você passou por aqui. e se destruiu algo foi só meu medo de dizer novamente pra alguém, de dizer pra você, o valor especial que tem na minha vida. já faz diferença.
"e de relance eu te vi (...)
e num sorriso eu me deixei levar, e num sorriso eu te carrego na minha memória."

sei que nem todos os dias podem ser "dias de algodão doce".
mas nada pode tirar de mim aqueles dias. sonho que nada possa tirar você de mim.
não consigo simplesmente renunciar a tudo aquilo, eu ainda quero fazer aquele catálogo.
"quero catalogar cada sorriso, cada mimo, quero catalogar cada trejeito seu.
porque tudo isso é muito lindo. você é linda."

ainda espero que meu coração valha algo, que meus sonhos valham algo.
que valha cada fagulha que eu sinto, espero que todo o sentimento, mesmo tão conflitante, ainda valha.
porque é difícil lidar com tudo isso, acredite.
e digo que não me deixo abater, porque sei que basta um sorriso para que todos os momentos de solidão se transformem em "alto astral".
ainda vale a pena, porque tanto as palavras do passado quanto as do presente, e as futuro que eu sei virão, ainda "me fazem feliz hoje".
tudo que eu mais quero é que "de relance, e de lance, e de cada ângulo, e em cada momento, e com cada sorriso, eu quero te ver."
"e dou risada do grande amor: mentira (?)"

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ócio

Depois de um tempo sem colocar nada por aqui, vi algo num do blogs que eu mais gosto, que costumo ler com frequência, o Liberal Libertino Libertário, e achei legal a ideia. Acho que vou tomar um pouco disso pra minha vida. Lê ai:


"Nunca deixa de me abismar como as pessoas simplesmente não têm tempo para si mesmas – por escolha própria. Trabalham 15 horas por dia pra ganhar R$5.000 por mês e gastam cada vez mais e trabalham cada vez mais, e a roda nunca pára de girar. A possibilidade de trabalhar a metade do tempo pra ganhar a metade do dinheiro, de encaixar seu padrão de consumo em R$2.500, de ter meio dia pra si, para seu crescimento pessoal, para seu ócio criativo, nem que apenas pra ficar quatro horas por dia na praia, isso nunca passa pela cabeça da maioria das pessoas.


E me lembro dos portugueses recém-chegados ao Brasil que observavam os índios de uma tribo saindo juntos para derrubar 20 árvores. Passavam o dia nesse serviço, voltavam para aldeia com as árvores e ficavam uma semana em suas redes, coçando o saco, até que a aldeia precisasse de árvores de novo. E os portugueses, fazendo contas, desesperados com tanto desperdício de produção: mas se os homens da aldeia derrubam 20 árvores em um dia, quer dizer que em uma semana derrubariam 140, em um mês, 560 e.... Interrompe o índio: mas o que é que nós vamos fazer com 560 árvores? A tribo só precisa de 20. A gente vai, arranja as 20, e fica o resto do tempo descansando...


O pior: por centenas de anos, essa anedota foi contada em livros de histórias e viagens como exemplo da burrice e indolência dos índios e não, como deveria ser, do seu gênio.


 Odeio trabalhar. Trabalhar desenobrece. Trabalho não é virtude. Trabalho não é intrinsecamente bom. Trabalho é uma maldição. Trabalho é algo que eu faço o mínimo possível, só pra pagar as contas mais urgentes e olhe lá. A cada trabalho de consultoria que eu pego, eu só me pergunto o seguinte: quantas horas de ócio isso vai me comprar?."

As vezes a nossa preocupação parece tanto ser produzir, produzir, produzir, que colocamos a vida no piloto automático e esquecemos do porquê fazer as coisas, do propósito de uma vida tão corrida. A vida não comporta tanta pressa, tanto esforço que não vai gerar resultados, ou pelo menos resultados úteis, que torne o nosso dia a dia melhor. Era pra ser leve e prazeroso, equilibrado entre fazer e não fazer nada.
Hoje me surpreende como as pessoas fazem plano pra tudo, até pras férias, estão sempre prudentes e precavidas, não deixam margem nenhuma pra algo dar errado. Algo dar errado não é um desastre, as vezes é preciso despreocupar um pouco. Temos que saber aproveitar o ócio, deixa a mente descansar e não cair na falácia de que devemos levar a vida em linha reta, sem olharmos pros lados, sem nos preocuparmos com coisas que parece que não possuem tanta importância, mas no longo prazo é o que nos faz meditar, pensar, planejar o futuro e seguirmos um caminho, que pode ser lento, mas é mais seguro.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Escre-vivendo

Escrevo pra mim.
Escrevo tanto pelos dias felizes quanto pelos dias tristes. Pelos sucessos e pela decepções.
Mas escrevo pra mim, sempre.
E faço com que cada verso possa, antes de manchar uma folha de papel, fazer marca na minha vida. Cada ponto e cada vírgula tem que ter uma razão de existir.

Aprendi que palavras as vezes podem parecer doces, podem ter uma aparência agradável. Mas não se engane. Palavras são armadilhas por natureza, cortam como navalhas e quase nunca chegam ao seu destino vazias. Palavras são tiros certeiros.

Escrevo porque é o que faço. Alguns falam, outros correm atrás de dinheiro, coisas, outros ainda só sorriem e já se expressam, brilham. Eu escrevo.
Já tentei fazer todas as outras coisas, mas nunca pareceu ser o mais certo. Não há que se inventar outra natureza, não tem razão pra ser artificial.
Então escrevo. Muito. E pra mim, sempre.

Não escrevo pra fulano ou ciclano, mesmo que muitos afetem (e muito) o que escrevo.
Escrever pra pessoas certas, conhecidas, já me fez rasgar muito papel e eu não me sinto confortável em ler dias ou anos depois o que é tão direcionado assim, exclusivo.
Hoje escrevo pra sentimentos, pra memórias, pra idéias. Esses sempre duram mais, as vezes duram até pra sempre.
Não escrevo mais pra nínguem. Não mais, parou.
Sempre me pareceu que cada poema escrito pras pessoas teve o valor de nada. Talvez o problema não seja exatamente as pessoas, mas os poemas, mas eu tô pensando seriamente no contrário. Mas quem sabe se depois funciona ?

No final das contas, tudo o que eu escrevo é pra mim ler. Você é efeito colateral. Não me leve a mal, é um elogio.
Faço milhares de homenagens a mim mesmo, em cada verso escrevo uma ode para um momento da minha vida.
Não escrevo para parecer legal, pelo contrário. Se eu quisesse parecer legal eu esconderia muita coisa que escrevo.
Um exemplo é que eu não gosto de rimar. Gosto de rima, mas não as minhas. Só de me imaginar rimando eu imagino um macaco tentando usar uma calculadora.

Escrevo porque não gosto da minha voz e tenho preguiça de conversar (sim, o cúmulo da preguiça)
Escrevo pela mesma razão que respiro, que como, que durmo: porque preciso.Porque faz parte do que sou.

Sim, escrevo muito sobre amor. Mas porque eu vejo amor em tudo que faço. Mas escrevo muito sobre ódio também, só que quase nunca mostro pra alguém. As palavras de ódio parecem feias e sem graça com o tempo, e eu logo apago. Nem eu gosto de as ler muito.
Por incrível que pareça, eu não gosto de escrever sobre amor. Sempre parece que estou escrevendo uma carta de suícidio (e tem uma linha tênue, repare bem).

Escrevo pelo medo de não ser compreendido. Tudo parece ficar mais fácil no papel, onde se pode apagar.
Tenho medo do quanto são permanentes as coisas faladas, as ações. Apesar do paradoxo de que escrever é eternizar ainda mais em certas situações.

Mas, finalizando, li uma frase que diz: "quatenus nobis denegatur diu vivere,
relinquamus aliquid quo nos vixisse testemur" (“Pois que não nos é outorgado viver muito tempo, deixemos alguma coisa com que provemos que fomos vivos”.)
Ou seja, é mais ou menos assim: escrevo algo porque vou morrer. E quero escrever algo que simbolize pelo menos uma pequena parte do que (não) vi, (não) senti e do que (não) falei.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Individualismo e Tom Jobim

Muito se fala hoje sobre como tornar o mundo melhor, mas o que as pessoas esquecem é que é necessário nos tornar melhores primeiramente.
O problema do mundo como está, onde poucos tem tanto enquanto muitos tem quase nada, onde não ligamos para o nosso futuro quando agredimos o meio ambiente, onde o lucro vale mais do que vidas e as pessoas se afundam, indiscriminadamente, em depressão e ansiedade e viciam em drogas (ilícitas e licitas) para "melhorar sua vida", todos esses problemas, não são as pessoas, não é a falta de conhecimento de quem somos e pra onde vamos, não é a falta de esta ou aquela religiosidade ou ideologia, muito menos o mundo está mergulhado em caos por essa ser uma condição inata da humanidade. Na minha opinião, tudo é fruto do egoísmo, da individualidade.De pensar em si mesmo como uma unidade autônoma na humanidade, autossuficiente e auto-realizável, em não ver as pessoas como companheiras do mesmo barco, como comunidade.

Uma das corroborações dessa minha opinião é o grande número de pessoas que preferem viver só, preferem se isolar no seu próprio mundo, de sucesso (ou o que se considera sucesso). Você pode alegar o lado positivo dessa individualidade: independência, produtividade, menor número de conflitos interpessoais (?), uma vida mais moderna e menos dependente das mudanças de temperamento dos outros seres humanos, conhecidos por sofrerem crises e por terem altos e baixos. Mas eu te apresento os contras, que eu acredito serem ainda maiores: solidão, impaciência, individualismo, egoísmo e ambição sem limites. Olhe ao seu redor e veja essas características entre as pessoas que você conhece: é certeza que encontrará muitas delas. Hoje o que mais interessa pras pessoas é o imediato, é o que brilha, é o que parece ser mais fácil. Falta maturidade em ver que tudo tem dois lados, que não há como aceitar apenas o lado bom da convivência com as pessoas e renegar o ruim.

Isso se torna ainda pior com o mundo online em que estamos entrando, onde os limites entre o mundo real e o mundo "inventado" estão cada vez menos claros.Neste novo mundo das redes sociais onde todos são sorridentes, dos jogos onde a maior interação que se tem é com pessoas que, muitas vezes, nem sabemos os nomes reais, as pessoas não valorizam mais a simplicidade e a falibilidade das pessoas. Não interessa a continuidade, a história de vida, mas sim os resultados. A comunicação, que antes era um conjunto de ferramentas que tinha como principal proposito juntar pesssoas hoje está sendo usada para que nos afastemos, para que sejamos "cheios em nós mesmos". Estamos cada vez mais pertos um dos outros, mas de costas uns para os outros.

Pessoalmente, me considero uma pessoa que está incluída nesse individualismo todo, nessa mentalidade de que a independência de estar só é boa, apesar de ter a consciência e tentar sistematicamente a aproximação com outras pessoas. Pessoas são problemáticas, pessoas te machucam, pessoas morrem, se vão, te decepcionam, podem te deixar triste. Mas qual seria o sentido da vida em viver em mundo séptico e fechado, onde eu não precisasse de nínguem para aprender, para se alegrar, resumindo, para ser uma pessoa melhor. Não precisamos de mais discursos, não precisamos de mais ideologias e nem precisamos de uma busca incessante por novos líderes, e que sejam fortes. Precisamos parar de olhar para os nossos próprios umbigos e vermos que existe todo um mundo de gente diferente lá fora. E isso é tão lindo que abrange não só questões de relacionamentos pessoais, sejam familiares ou de amor, mas também socialmente, culturalmente, religiosamente, ambientalmente e tantos outros.

Pra terminar, não tem como não citar "wave", do tom: "Fundamental é mesmo o amor. É impossível ser feliz sozinho."

Abraços!

Ps.: Claramente inspirado nesse texto (:

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Caminhar

Seria tudo muito lindo se as coisas acabassem num piscar de olhos.
Se pudéssemos fechar cada etapa das nossas vidas e rapidamente abríssemos outra.
Se pudéssemos terminar tudo que estava na cabeça, se pudéssemos esquecer as ferroadas que recebemos de vez em quando.
Mas a vida é essa continuação maluca, onde não se sabe diferenciar as partidas e as chegadas. Onde nada realmente acaba.

Nesse meu barco, pequeno, encaro a imensidão do mar, da vida.
Dou risada quando me perguntam pra onde vou, quando querem saber como me oriento.
Nem bússola, nem mapa. Pra mim as estrelas são só objetos de admiração.
Eu não sei onde estou, nem pra onde vou. Mas sei pra onde não quero ir.
A minha intenção é me perder.Conto que exista algo melhor além da linha de horizonte.

Caminho só. Agradeço pelos amigos que surge no caminho, mas sigo meu rumo com as minhas próprias pernas.
Agradeço todos os dias a Deus por saber trilhar, por poder caminhar novamente, por Ele me livrar dos perigos.
Evito o orgulho, evito a tristeza, evito a alegria também. Evito tudo que possa me sufocar na esquina.
Quando encontro uma flor, troco de calçada.
Tanto faz o caminho onde ando, nem se bom ou ruim. O que interessa é lidar com a mesma humildade, do mesmo modo, com todos.
Afinal, nunca se sabe se amanhã aparecerão forças pra caminhar.

Hoje em dia me surpreende a beleza da vida, principalmente nas coisas simples e delicadas.
Me encanta a capacidade de renovo que existe na terra, no ar, no mar, no coração de pobres rapazes, em mim.
Me completa o modo como olhares de ternura e beijos com afeto, apesar de às vezes serem gestos voláteis, valem tanto.
É lindo o jeito como a vida nos apresenta caminhos distintos a partir de atitudes tão pequenas.
Me maravilha o jeito como a vida surpreende, o modo como devemos prestar atenção em cada palavra dita, em cada passo dado.
E sigo dando meus passos, sem paradas. Se pequenos ou não, você que decida. Pra mim, eles cabem no tamanho da minha falta de planos. Pra mim, meus passos grandes, são do tamanho dos meus sonhos.

domingo, 18 de março de 2012

Quero

quero ver estrada, cheiro de mato, barulho de rio e conversas interminaveis varando a madrugada.
quero cantar com um violão, quero subir na árvore, quero forró colado.
quero sensação de ter aproveitado, quero buteco da esquina, quero te chamar pra dançar.
quero a sensação de vento no rosto, de voar no céu, quero viver sem preocupação, viver hoje.

quero meus amigos juntos, quero mais uma dose, quero mais um copo, quero a saidera.
quero tirar o dia pra ler um livro, quero ver filme abraçado, quero ver o por do sol.
quero andar descalço na rua, quero a conversa de porta com os vizinhos, quero andar a cavalo,
quero sentar pra ouvir aquele disco antigo, quero aquele macarrão, o melhor, aquele da larica da madrugada.

quero o sorriso daquela que tem meu coração, quero o seu abraço de conforto, quero seus lábios quentes.
quero dormir na rede, quero não ter horário pra acordar. quero não ter horário pra dormir. quero acampar.
quero deitar e meditar, quero tomar banho de chuva, quero recitar poesia, quero ouvir tambor.
quero telepatia, quero poder conversar sem pressa, poder contar história, quero menos violência, quero amor.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Aborto.

Oi todo mundo (:
Mantendo os assuntos polêmicos, hoje eu decidi falar sobre o aborto. Vou tentar ser o mais imparcial possível, mas é impossível ser totalmente neutro. De uma forma ou de outra as pessoas sempre exprimem a sua opinião.
Vi um vídeo de uma discussão na globo news (que mais parece aquelas discussões que eu tinha no 1º de faculdade) sobre o projeto do novo código penal. O link tá aqui.

Não ficou muito claro as novas ideias dessa comissão pelo vídeo, mas eu dei uma olhada por aqui e achei:


Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque.
Pena - Detenção, de um a nove meses. (...)


Exclusão de ilicitude
Art. 128. Não constitui crime o aborto praticado por médico se:
I - não há outro meio de salvar a vida ou preservar a saúde da gestante;
II - a gravidez resulta de violação da liberdade sexual, ou do emprego não
consentido de técnica de reprodução assistida;
III - há fundada probabilidade, atestada por dois outros médicos, de o nascituro
apresentar graves e irreversíveis anomalias físicas ou mentais.
§ 1º. Nos casos dos incisos II e III, e da segunda parte do inciso I, o aborto deve
ser precedido de consentimento da gestante, ou quando menor, incapaz ou
impossibilitada de consentir, de seu representante legal, do cônjuge ou de seu
companheiro;
§ 2º. No caso do inciso III, o aborto depende, também, da não oposição
justificada do cônjuge ou companheiro.



Pra galera que não é do direito ou tá com preguiça de ler o artigo: o aborto continuará sendo crime, mas existem certas "exceções" que fazem com que o crime "não aconteça" (as chamadas excludentes de ilicitude).
Talvez essa versão do anteprojeto não esteja atualizada e por isso sem a condição "psicológica" que o vídeo descreve.

Eu acho essa condição de "fragilidade psicológica" e de "incapacidade de se criar uma criança" uma condição muito frágil de se provar, tanto juridicamente quanto cientificamente, mas eu concordo com a sua implementação, como eu concordo com todas as mudanças.
Eu sou contra o aborto, eu nunca mandaria uma mulher abortar um feto meu e nem abortaria, se fosse mulher. Mas eu acredito que as pessoas não devem ser penalizadas por uma criança, que deveria ser um motivo de alegria e não de sofrimento. Porém eu não acredito numa descriminalização aberta sobre a questão do aborto por não acreditar que nossa sociedade esteja preparada para isso.

Por mais que você diga que temos a "opção de escolher", é ingênuo o pensamento de que todos tem condições de fazer o mesmo. Muitas pessoas simplesmente abortariam por medo, desespero e também deixariam de usar métodos contraceptivos. Não estou falando de você, mas sim daquela garota/garoto que não tem instrução nem educação familiar e que não se importa muito com o uso de pilulas, diafragmas, muito menos camisinhas.

Eu considero muito fraco o argumento de "o aborto deveria ser liberado porque muitas pessoas já fazem abortos ilegais e essa não é uma questão criminal, e sim de saúde pública". Logicamente isso realmente acontece, o aborto é sim uma questão de saúde pública. Mas não deixa de ser uma questão de ordenamento social, de tutela do Estado sobre as decisões das pessoas, e por isso é uma questão criminal. Se fosse pensar por esse lado não é muito longe pensar que deveriamos descriminalizar, com as devidas proporções obviamente, o tráfico de drogas já que muitas pessoas traficam. Só porque os crimes acontecem e não são devidamente punidos não é razão para acreditarmos que eles não são mais crimes ou são menos graves. O aborto não é um método contraceptivo e nem deveria ser uma escolha entre sim ou não, de vontade de ter um filho ou não. O aborto deveria ser uma última barreira contra o sofrimento de uma mãe em dar à luz a um filho que não tem condições de sobreviver ou o sofrimento de uma mãe e de uma família que não tem as minimas condições psiquiatricas, sociais e fisiológicas de criar uma criança.

Somente um ponto do anteprojeto, nessa parte do aborto, me preocupa: quais são os critérios que vão definir que "e o nascituro apresenta graves e irreversíveis anomalias físicas ou mentais." ou que a mãe não tem condições "sociais" de ser uma mãe ? Temo que esse termo seja abrangente demais e que dê possibilidade para uma eugenia, um selecionamento dos mais preparados, uma "purificação" na nossa sociedade. Então se ficar constatado que meu feto não possui uma das pernas ou que tem síndrome de down eu posso abortar ? O que é "ser perfeito" ? Se ficar constatado que tal mulher é "socialmente instável" por ser uma prostituta ou uma usuária de drogas, ou até mesmo somente miserável, ela pode abortar pra nos livrar de mais um "miserável" ? É importante a consciência e o bom uso dessas duas excludentes.

Enfim, gostaria de falar que sonho em ver um dia esse tipo de discussão fugir do pensamento religioso, da moral, e ir pro caminho do bom-senso, da convivência com tolerância como todos. E quando falo da moral não estou falando somente da pressão de muitos cristãos pela supressão clara de garantias fundamentais como a liberdade, mas também a intolerância que muitos ateus, agnósticos e não-cristãos em geral pela supressão de garantias fundamentais como a liberdade de pensamento e de expressão e o direito de associação com fins pacíficos. Todos tem o direito a discussão e argumentação, sejam seus critérios científicos ou puramente tradicionais, puramente "divinos". As vezes falta respeito com as opiniões adversas.

No mais, espero que a aprovação do projeto seja rápida, já que me parece realmente fundado e não apenas "aspirações" de movimentos "sociais" que nem sempre representam pensamentos comuns da sociedade. Abraço e até mais.

domingo, 11 de março de 2012

Era uma vez, existia um garoto estúpido que vivia sua vida estúpida.
Até que ele encontrou uma garota.
Ele era tão estúpido que ele pensou que era feliz. E ela fez com que ele pensasse que era verdade.
Ele a amou tanto que a amou mais do que ele mesmo. Mas ela não o amou tanto.
E nessa hora o garoto estúpido perdeu seu coração pra sempre.
Porque, tristemente, ele jogou o coração dele fora.

(De algum amigo que pensa que não sabe, mas escreve)

sábado, 10 de março de 2012

No céu. Com Diamantes.

tento te esquecer, tento não lembrar aquele abraço cheio de calor,
esquecer o cheiro bom da sua pele, o sabor doce de seus lábios.
esquecer que você encaixava perfeitamente entre meus braços.
que você encaixava perfeitamente no meu coração.
ainda me lembro daquela sensação de flutuar por nuvens de algodão doce que nós dois curtíamos.
lembro como nos curtíamos.

e nada me faz passar aqueles dias que vivemos juntos.
porque aqueles dias foram melhores.
porque eu era melhor quando tava do seu lado.
e a única preocupação era quando seria o próximo encontro.
céus de marmelada e árvores de tangerina.

então vamos nos ver novamente, ouvir um bom cd de um daqueles malucos da tropicália, daqueles 4 caras de liverpool. esquecer tudo que foi ruim, só lembrar das coisas boas.
beber uma cerveja, fumar um cigarro, discutir política, descobrir o sentido da vida, talvez curtir alguma coisa a mais.
só não me deixe aqui, só.
só não me deixe sonhando com aqueles olhos de caleidoscópio que eu não consigo apagar da minha cabeça.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Mendigos são pessoas iguais a você.

E ai, beleza ? Tem muito tempo que eu não posto nada aqui que não seja melacuequice, mas eu juro que esse blog não tem intenção só disso. Acho que é mais porque é trabalhoso escrever textos grandes e tal. Mas hoje deu vontade, então aqui estou.

Eu tô mais ou menos 1 mês com esse assunto engavetado na minha cabeça, mas eu não escrevi tanto por preguiça quanto por tamanha aversão a esse tipo de polêmica. Eu quero falar sobre essas recentes (e outras nem tanto) agressões a mendigos, moradores de rua e outras pessoas de um modo geral (sim, moradores de rua são pessoas, apesar de muita gente achar que não).

Nós nos deparamos com esse tipo de violência cada vez mais frequentemente. Pelo o que eu lembro, só em fevereiro foram noticiados um quatro casos pela grande imprensa.Você pode argumentar que tais casos são esporádicos, isolados e que eu só estou escrevendo esse texto porque sou influenciado por esses casos televisionados. Mas é só olhar um pouco lá fora que você vai ver que as coisas estão piorando.

A coisa tá ficando feia, as pessoas tão ficando cada vez mais xenófobas, intolerantes, ou simplesmente sem-noção mesmo. Culpe a crise econômica, culpe a queda da instituição família, culpe o capitalismo, culpe até mesmo o apocalipse eminente dia 21/12/2012, mas não negue que as pessoas estão frias, calculistas e cruéis. Uma pessoa que reúne um grupo de amigos pra colocar fogo numa pessoa que dorme numa praça não tem a minima consciência de que não tá colocando fogo num pedaço de papel, nem mesmo num animal (o que já seria crueldade, mas "menos cruel", se é que isso existe), mas sim num semelhante, num ser pensante, que tem metas de vida, que tem uma história e talvez até mesmo pessoas que a ama.

Acredito que as pesssoas hoje em dia não se importam se as outras pessoas existem ou não. Não importam se a pessoa que elas estão batendo, com seus grupinhos na maioria das vezes de classe média, é tão importante quanto elas. Perdemos a consciência que o ser humano é importante. Um exemplo disso é que existem mais repercussão quando um animal é morto, abandonado, etc. do que quando uma criança é morta, abandonada, passa fome, etc. Nada contra os animas (adoro cachorrinhos, juro), mas as pessoas estão descrentes na capacidade das pessoas de serem únicas, relevantes, de serem insubstituíveis. Acham que os problemas das pessoas, de falta de moradia, alimentação adequada, tratamento de saúde, entre tanto outros, são problemas de um Estado ou são problemas dos outros e não delas. "Cada um que viva a sua vida e se você não consegue ser "bem sucedido" com ela, que morra. Eu não preciso te ajudar, isso não muda nada na minha vida"

Pois é. Não vai influenciar muita coisa na sua vida você ajudar ou não alguém (menos praqueles que aliviam sua consciência ajudando os outros, que é rídiculo, mas é assunto pra outro post), mas você deve fazer isso simplesmente por ser a coisa mais lógica a se fazer quando você é criado pra viver em sociedade, pra fazer parte de um todo que se ajuda solidariamente.

Um sinal que não somos mais condicionados a isso pela nossa principal instituição, a família (que está em queda livre), é que quando alguém tenta ajudar, ele se torna um herói. Um exemplo é um rapaz (não sei o nome, nem tô com vontade de procurar) que evitou que uma pessoa fosse espancada numa praia do rio, no começo de fevereiro. Ele se ferrou bonito, quase morreu, teve ossos quebrados, teve que fazer cirurgias reconstrutivas e tal e, o mais letal, foi chamado de herói. Ele não é um herói. É só uma pessoa que fez o seu papel, lindamente é digno dizer, mas apenas seus papel como membro de uma sociedade que deveria pelo menos procurar satisfazer dentro de si mesma as suas necessidades. Se alguém é violento com outro alguém, é necessário alguém intervir, e esse é o papel daquela pessoa, não é uma coisa extraordinária. Se você não faz isso, você tá é em defícit, e se você faz, tá pagando uma "dívida social" (gosto muito dessa expressão).

"Tá, nicolas, mas qual é a solução ?" Primeiro: Não acredite em gente que dê solução pras coisas. Eu não tenho a minima ideia de como a gente pode se tornar pessoas melhores e aptas a viver numa comunidade que não seja como a nossa, onde pessoas morrem em condições estupidas simplesmente porque "não temos tempo" pra ajuda-las de alguma forma, mas temos tempo pro chat do facebook. Segundo: Mesmo que eu tivesse todas as soluções dentro da minha cabeça, eu não falaria. Porque eu não escrevo esse blog pra sentar num trono e falar pra todo mundo o que eles deveriam fazer pro mundo ser melhor. Eu não acredito que o mundo deveria ser assim, onde apenas poucos falam pra muito quais são os melhores caminhos, mesmo que esses poucos sejam os melhores. Eu acredito num mundo onde todos sejam pessoas pensantes, pessoas conscientes de seu papel social, não somente por um dia da semana (ou do ano) escolhido pra distribuir brinquedo na creche ou ligando pro criança esperança, mas sim 24 horas por dia e 7 dias por semana, 365 dias por ano (e 366 esse ano, que é bissexto).

Acredito que se todo mundo tiver a consciência de que a pessoa que tá na rua é tão importante quanto você nessa engrenagem social que vivemos, o mundo vai ser melhor. Talvez ela não tenha o seu QI, talvez ela não fale nem português direito, muito menos é fluente em alemão, mas ela é importante sim. Ela tem uma experiência de vida que você nunca teve e nunca terá, ela conhece coisas que você nunca viu, e sequer sabe o que é. Ela sabe fazer coisas que você não tem a minima habilidade pra fazer. Então se eu posso dar um conselho, é: desce desse salto alto, abaixa um pouco o vidro do carro e aprenda mais com as outras pessoas, sejam elas quem sejam. você não é o melhorzão não. É só mais uma peça de um quebra cabeça onde todas as peças são igualmente relevantes.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Nem direto como o Catra e nem meloso como o Wando.

"Fala desse livro que cê leu, do filme que cê viu, do
lugar que cê já foi, das musica que curtiu, tudo.
Quero seu mundo como lar, ei, do teu lado sinto que
achei meu lugar. (...)
Sem me preciptar, andando do seu lado,
tua boca é tão bonita, eu nem tinha notado.
Eu não sei se eu falo tudo, calo, mudo, e você ri.
E eu temendo perder o que fez chegar aqui" :**


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Eu não amo mais o passado.

"Você me pergunta pela minha paixão. Vishe, digo que estou encantando por uma nova invenção. Invenção minha, mais útil, menos triste. Me inventei.
Eu vou ficar nessa cidade, meu sertão é meu coração. Pois sinto no vento, o cheiro de nova estação.
Eu sei de tudo, eu vivo tudo, e tudo isso na ferida aberta e viva do meu coração.

Já faz tempo, eu vi você na rua. tentei disfarçar, tentei não olhar, mas aquele cabelo ao vento, aquela gente nova reunida, me fez virar pra parede da memória e ver você.
E na parede da lembrança, você é o quadro que doí mais.
Sinto que apesar de termos feito tudo diferente, tudo é sempre igual. Vivemos como os nossos pais.

Mas eu não quero lhe falar sobre as coisas que aprendi apenas nos discos. Acho que tudo isso é pra dizer que você ainda persiste em ser a memória mais forte, o quadro que eu mais amo na minha parede.
Que ainda vou amar, sempre."


Totalmente inspirado na música desse cara fraquinho aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=85tRr6_1FXQ

Ouça Alucinação ;))

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Carnaval

Então chegou o carnaval
Data que só faz bem, nunca vi nínguem reclamar que faz mal
Pede pra mãe não se preocupar,
que de depois da quarta feira de cinza eu costumo durar.

Dia de colocar o bloco na rua
De pintar a cara, de botar fantasia ou de sair assim mesmo, nua
Fala praquela moça bonita que hoje com ela eu quero dançar,
e que é pra deixar o coração em casa, que carnaval não é data de se apaixonar.

Desce mais cerveja, sempre vou jurar que é a saideira
que agora é época de subir o morro, dia de sambar na ladeira
Vai servindo mais daquela da boa até a noite acabar
que hoje eu quero cantar, hoje a noite vai até o sol raiar

Toca aquele forró apaixonado
Vamo cantar aquele samba embolado
Coloca o vinil do choro carregado
que hoje eu só saio daqui acompanhado (:

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Esse pode parecer um blog mela cueca, mas não é.

ontem você disse que eu nunca conseguiria saber todos os seus sorrisos.
provavelmente não, é dificil conhecer tão bem as pessoas com tão pouco tempo.
mas eu acho legal o que eu já sei sobre você.

talvez eu não saiba todos os sorrisos que você possa me mostrar,
mas todos os que vi eu já me alegraram. Todos os que eu já vi me fizeram sorrir.
não vi todos, mas já sonhei com muitos, acredite.
e o que importa não são as expectativas, o que as pessoas vão fazer por você, mas sim o bem que elas já traduzem.
e você me traduz coisas boas. me traduz felicidade, leveza, sabedoria, liberdade.

quero catalogar cada sorriso, cada mimo, quero catalogar cada trejeito seu.
porque tudo isso é muito lindo. você é linda.
quero guardar na minha cabeça como alguém pode ser tão único, como você é. Como pode ser surpreendente.
desculpa se as vezes me comporto como uma pessoa chata, enjoativa.
quero poder te falar cada sorriso que se passa quando lembro de você. porque isso me faz feliz hoje.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

ver

e de relance eu te vi.
no meio de tanta confusão que passava por mim, no meio de tanto barulho, estática.
e foi tão natural, foi lindo como tem que ser uma história assim.
natural como respirar, forte como a batida de um coração, rápido como uma surpresa, intenso como um sorriso sincero.
e num sorriso eu me levei, e num sorriso eu te carrego nas minhas memórias.

deixei-me ir nesse ritmo, me deixei ir nesse jeito só seu que hipnotiza, que sempre me dá vontade de mais e mais.
num momento de paz sem igual como esse, te escrevo que o problema (ou seria solução) não foi te ver de primeiro.
foi te rever, te dizer, descobrir-te e descobrir-me em certas coisas. e muita coisa que você disse ajudou nisso.
"culpa sua"

nem todas as palavras que eu possa dizer vão valer o que passa aqui dentro agora.
porque eu posso parecer muito tranquilo, mas na verdade eu vivo em um grande turbilhão.
não tenho muitas certezas, mas a certeza que eu tenho agora, certeza que eu sinto toda vez que a janelinha do facebook abre com uma msgzinha sua, é que te quero nesse meu turbilhão de pensamentos.

quero te dizer que de relance, e de lance, e de cada ângulo, e em cada momento, e com cada sorriso, eu quero te ver.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Doesn't matter how, all is love.

Quantas portas fechadas nunca mais posso abrir ?
E quantas outras tantas nunca tiveram chaves ?
Quanto tempo é necessário esperar pra passar ?
Quanto tempo faz que a gente brinca de guardar sentimentos, enterrar paixões, sendo que sabemos que isso só trás arrependimento, dor ?

As vezes bate na cabeça a ideia da impossibilidade de amar verdadeiramente novamente.
Mas logo trato de afastar. Pra mim não faria sentido nenhum caminhar sem ter alguém do lado.
Mais cedo ou tarde vai existir quem me faça jogar as outras chaves, o meu passado, fora definitivamente.

all is love

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Escolha de Vida

Continuando a tratar de coisas "polêmicas", hoje vou falar sobre um pouco do que é minha visão sobre o debate sobre consumo de drogas. Vou tentar ser o mais imparcial possível porque eu considero que não é de interesse de nínguem (e muito menos meu) me expor aqui.Me motiva escrever esse texto um texto que eu li agora, esse aqui,e várias opiniões que eu ouço por ai, tanto em meios de comunicação grandes até mesmo por meio das pessoas com quem converso. Primeiro vou falar sobre o que considero sobre drogas, depois eu critico essas ações policiais (tô fazendo isso bastante, né ? :p)

Ter a idéia de que vai existir uma humanidade sem uso de substâncias que modificam a realidade (que é a definição de drogas) é um ingenuidade. Considero que todas as civilizações tiveram seu próprio modo de se enebriar, procurando alguma coisa que desconecte do mundo real e leve a um mundo surreal, me arrisco a dizer até superior. Acho que é inato do ser humano essa procura, do mesmo modo como é inato a figura das divindades. Isso não quer dizer que usar drogas é uma coisa justificável, normal, que você tá errado em não o fazer. Não acho isso e não estou aqui pra fazer apologia. Mas acho que a hipocrisia de como o assunto é tratado é mais prejudicial do que o uso ou não de qualquer substância. Drogas matam, são prejudicias pra sua saúde, causa dependência ? Sim, comprovadamente sim, apesar de algumas serem piores que as outras. Mas várias outras coisas matam. E se tem uma coisa que a nossa sociedade não tá preocupada é com mortes.

Você pode até dizer que a vida humana tem um valor enorme e que há um esforço enorme para que essas vidas possam ser mantidas. Mas você tá meio que se enganando. Me arrisco a dizer que a grande maioria, chutando no mínimo uns 2/3 das pessoas, não dão a mínima pro resto da humanidade (a não ser que essa humanidade se resuma a pessoas que você tem um afeto). Um exemplo disso ? Você sabe que milhões de pessoas morrem de fome enquanto você desperdiça milhares de reais por ano com superficialidades. Você sabe que milhões de pessoas morrem numa fila de hospital por falta de médicos, por exemplo, e nem por isso você viraria médico, afinal não curte muito sangue (eca, eca). Se você se importasse tanto pela humanidade se esforçaria um pouquinho mais pra ajudar o mendigo que mora ai perto da sua casa.É provável que você nem saiba o nome do seu porteiro e ainda dá uma de consciente e protetor da vida humana. Mas isso é assunto pra outro texto.

Não tenho a intenção de ser moralista, acho que nem tenho a consciência limpa o bastante pra isso. Mas pelo menos admita, eu sou hipócrita, você é hipócrita, em muitos momentos. E quanto se trata de drogas, também. Porque tamanha intromissão na vida de alguém ? Porque as pessoas não podem simplesmente tomar suas próprias decisões de fazer coisa x ou y sem que todo mundo coloque o dedo e diga que está errado (sendo que muitas vezes essas pessoas possuem falhas de caráter muito maiores) ? Onde eu quero chegar com isso ? Porque uma pessoa adulta, com todas as suas capacidades mentais, não pode escolher usar drogas ?

Tudo bem, existe o argumento de que a pessoa não prejudica apenas ela com esse comportamento. Mas nínguem proibe o alcool ou o cigarro que prejudicam outras pessoas também. Qual a diferença ? Essas drogas também destroem famílias, profissionais, superlotam o nosso sistema de saúde e matam diariamente milhares de pessoas. Ou sejamos mais radicais: Se nos importassemos tanto assim com "a vida", porque não proibir consumo exagerado de açúcar, sal, gordura trans, o que também mata milhões de pessoas (às vezes até mais do que as drogas ilicitas) ? Se nos importamos tanto assim porque não fazemos carros que andam mais devagar, que sejam mais seguros e que evitam que as pessoas morram no trânsito como acontece quase todos os dias ?

Pra maioria das pessoas que convivem com você, a vida humana não vale quase nada, precisamos ter isso claro. Pessoas nascem e morrem de coisas bastante idiotas e nínguem se importa. Mas a única coisa que tem de valor na humanidade, na minha opinião, é a liberdade de escolha. Isso nos define como seres humanos e nos dá dignidade. Lógico que muita gente entra por um caminho de usuário pesado de drogas, perde totalmente a liberdade e se torna um viciado. Mesmo que essa pessoa queira parar, não vai conseguir. Mas isso também não ocorre. É muito arbitrário fazer como o Estado nos dias de hoje que diz: "você não pode fazer isso porque eu considero que isso é errado, que você vai se tornar uma pessoa pior". E se essa for minha escolha, vai adiantar a proibição ? Por isso sou a favor da legalização das drogas. Não sou a favor como medida "pra acabar com o tráfico", mas sim como medida para sermos mais sinceros. O tráfico é consequencia de outros erros da nossa sociedade (como a impunidade, a falta de saídas para um população jovem e pobre e a falta de cultura, de conhecimento do mundo, assunto pra outros textos), e relacionar o tráfico de drogas apenas com a existência de drogas é tampar o sol com a peneira.

Acho que a legalização deveria ser acompanhada com educação, com a formação de uma cultura em que a escolha de usar/não usar drogas seja acompanhada do conhecimento sobre as consequencias. Quebrar o tabu é isso. É as pessoas saberem realmente o que querem e não como é hoje, onde as pessoas fazem ou deixam de fazer algo que é inerente à condição humana por medo, desconhecimento, curiosidade.Espero envelhecer num mundo onde meus netos possam falar tranquilamente: "eu não vou fumar maconha não é porque eu vou apanhar da polícia, ser preso ou porque é errado. Eu não vou fumar porque eu não quero. Ou eu vou fumar porque eu quero, e não porque se eu o fizer eu vou ser uma pessoas rebelde, 'do contra'". Isso é tratar as pessoas como seres inteligentes, capazes de decidir seu próprio caminho. E se escolherem um caminho de merda, tudo bem, que os envolvidos sofram as consequencias, que elas sabem muito bem quais são.


Quanto a questão policial e sua relação com as drogas hoje em dia, é um de absurdo gigantesco a entrevista que eu vi do governador do estado de São Paulo falando que as ações da polícia militar na cracolândia tem o objetivo de trazer "dor e sofrimento" (palavras dele) para os usuários de crack para que eles possam procurar ajuda médica para largar o vício, já que a internação no Brasil não pode ser compulsória (ainda). Pela lógica dele, já que não podemos obrigar um monte de zumbis (veja imagens, inclusive do lugar onde essa galera mora) a largar o vício deles, vamos empurrá-los pro lugar mais longe possível do centro de sampa, onde estão as redes de tráfico (essas sim deveriam desaparecer), para que eles corram para uma rehab. Desculpa ai, mas isso não vai acontecer. Vão surgir outras cracolândias, talvez até maiores, mais pulverizadas, mas se você não der uma alternativa de vida pras essas pessoas que não tem nada a perder em usar algo que é tão prejudicial pra elas, elas vão continuar usando. Não vai ser "transformando cassetete em política de assistência social" que você vai resolver uma questão cultural, econômica, sociológica. Só com a compreensão e a valorização da vida dessas pessoas que elas vão poder escolher se drogar ou não. E vão escolher não se drogar, mas pelo motivo certo, não por medo.