sábado, 29 de setembro de 2012

Weight


Pareço um rascunho do que um dia já fui.
E posso colocar a culpa em tudo, em cada um, em todos,
Mas quem está me destruindo sou eu. Orgulho.

Blasfemo contra os céus, discuto bem sobre a hipocrisia.
Ópio distorce, mas dura pouco. No dia seguinte tudo vem à tona.
Falo muito, dramatizo, mas tudo é infantil demais.

Já não me valem palavras, já não me vale inteligência.
Sentimentos são jogados ao vento e nunca fecundam.
A única sensação é de cansaço. É tão difícil chorar depois de tanto tempo.

Sorriso, falso. Amizades, vazias. Abandono sentido na pele.
Pensamentos já foram um tipo de porto seguro, mas agora só se tornam sombras de desespero.
Já sinto o frio. Só me resta estar só.

De que vale ganhar o mundo e perder sua alma ?
Mas também de que vale ter alma, se tudo que o mundo quer é que você a perca ?
Como se ganha o mundo sendo você mesmo ? Seria mais fácil ser um desses, é mais fácil ser qualquer um.

"The love you take is equal the love you make".
Já que os beatles não mentem, sou eu que minto.
De amor eu só devo saber a definição de dicionário e a inspiração de algumas canções.

Hoje a sensação é de morte prematura. Hoje as feridas doem.
Hoje só queria um minuto de alívio. Hoje o peso é maior que a força.
"Boy, you gonna carry that weight for long time"

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Sobre a Poesia - Vínicius de Moraes


"Um monte de tijolos é um monte de tijolos. Não existe nele beleza específica. Mas uma casa pode ser bela, se o projeto de um bom arquiteto tiver a estruturá-lo os cálculos de um bom engenheiro e a vigilância de um bom construtor no sentido do bom acabamento, por um bom operário, do trabalho em execução.
Troquem-se tijolos por palavras, ponha-se o poeta, subjetivamente, na quádrupla função de arquiteto, engenheiro, construtor e operário, e aí tendes o que é poesia. A comparação pode parecer orgulhosa, do ponto de vista do poeta, mas, muito pelo contrário, ela me parece colocar a poesia em sua real posição diante das outras artes: a da verdadeira humildade.

O material do poeta é a vida, e só a vida, com tudo que ela tem de sórdido e de sublime. Seu instrumento é a palavra. Sua função é a de ser expressão verbal rítmica ao mundo informe de sensações, sentimentos e pressentimentos dos outros com relação a tudo o que existe ou é passível de existência no mundo mágico da imaginação. Seu único dever é fazê-lo da maneira mais bela, simples e comunicativa possível, do contrário ele não será nunca um bom poeta, mas um mero lucubrador de versos. (...)

Individualmente, o poeta é, ai dele, um ser em constante busca do absoluto e, socialmente, um permanente revoltado. Daí não haver por que estranhar o fato de ser a poesia, para efeitos domésticos, a filha pobre na família das artes, e um elemento de perturbação da ordem dentro da sociedade tal como esta constituída. (...)

Para o burguês comum a poesia não é coisa que se possa trocar usualmente por dinheiro, pendurar na parede como um quadro, colocar num jardim como uma escultura, pôr num toca-discos como uma sinfonia, transportar para a tela como um conto, uma novela ou um romance, nem encenar, como um roteiro cinematográfico, um balé ou uma peça de teatro. (...) Por isso me parece que a maior beleza dessa arte modesta e heroica seja a sua aparente inutilidade. Isso dá ao verdadeiro poeta forças para jamais se comprometer com os donos da vida. Seu único patrão é a própria vida: a vida dos homens em sua longa luta contra a natureza e contra si mesmos para se realizarem em amor e tranquilidade."


Genialmente, Vinícius de Moraes. Tenho orgulho e humildade em escrever minha vida escrevendo, ou pelo menos tentando, e me tornando mais um poeta, mesmo que nem próximo de sua tamanha capacidade de ver e se alimentar da vida, transferindo-a, com a devida emoção e simplicidade, para versos lindamente escritos.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Brutais.


Vivemos em mundo violento, e isso não é novidade pra nínguem.Basta um passeio por uma grande cidade - e cada mais por cidades médias e pequenas - pra vermos que nosso mundo é marcado por grades, cercas elétricas, cadeados cada vez maiores, vigilância onipresente e tantos outros aparatos que nos dão, pelo menos, a ilusão de segurança.Além do medo que temos das outras pessoas, o mundo por si só é um lugar absurdamente hostil, e aprendemos isso desde pequeno. Raios, inundações, secas, pragas, furacões, maremotos, terremotos, animais selvagens. Taí o discovery channel pra não me deixar mentir: o nosso planeta é de dar medo. E hoje em dia eu vejo cada vez mais que a cara da nossa sociedade é a do medo. Só falta nos lembrar de que o mundo sempre foi perigoso, a violência sempre fez parte da história da humanidade, até mais do que hoje. Mas cá estamos e amanhã, como humanidade, estaremos.

Antes que pensem, eu não pensei em escrever esse texto como uma crítica nem ao nosso planeta nem ao nosso débil sistema de segurança. Acho que o propósito foi refletir que, apesar de todos esses perigos, o pior não é o que está "fora do mundo" e sim "dentro de nós". O meu maior medo não é das catastrófes, mas sim dos pensamentos imperiosos de intolerância e preconceito. Meu medo é o ódio que o ser humano tem, desde sempre e em todos os lugares, como herança comum. Pensei o texto quando refletia sobre as demonstrações de extremismo que vemos nesses últimos dias no mundo árabe, tudo fruto de uma reação a uma violência que surgiu do nosso mundo, do pensamento ocidental. Nós achamos tão certo em criticá-los pela selvageria, que é realmente é condenável, enquanto não pensamos que essa "selvageria" (sim, aqui coloco aspas) não é de toda desmedida.

Considero a violência que foi feita a eles maior do que a que ele fizeram como reação. Não entro nos méritos das manobras que os poderosos daquela parte do mundo fazem com os mais frágeis e susceptíveis que os ouvem e obedecem. Seria ingenuidade pensar que tudo aquilo (a destruição de embaixadas, a queima de bandeiras americanas e de biblías, a morte de funcionários inocentes de uma representação do nosso modo de vida ali, toda a violência estampada nos jornais e televisões do mundo durante essa semana), tudo isso, como fruto de um pensamento, de uma ambição coletiva. Esses pensamentos coletivos já foram tão raros que eu duvido que ainda existam. Os "protestos" que vimos por essa semana são manipulações de gente que usa a falta de instrução daquela população, carente e devota a leis e a uma religiosidade, levando- os a obedecer certos dogmas sem questionar. Porém os méritos da revolta deles podem ser resgatados em outro texto. Esse tem como objetivo dizer que o modo como eles foram tratados e como os olhamos é a verdadeira violência. Por trás da nosso hipocrisia, das nossas palavras bonitas e do nosso sentimento de pertencermos a uma elite da humanidade, nós, ocidente, os colocamos como bárbaros, como ignorantes, como estúpidos ajoelhados frente à nossa suprema e magnífica soberania e sabedoria. Fazemos piadas de seus hábitos, de seus modos e vestimentas, de suas tradições e até da sua arreigada religião, que pra nós não passa de loucura, de enganação. Só nos esquecemos de olharmos no espelho e vermos que do lado de cá os erros não são tão diferentes, não somos tão "limpos", o telhado de vidro é enorme, apesar de fazermos de tudo para evitar mostrá-lo e quebrá-lo.

Enquanto milhares aqui lutaram, lutam e lutarão por direitos humanos e pela liberdade, continuamos a menosprezá-los. Eles e tantos outros. Em qualquer país que não fosse hipocríta com a sua moralidade, o filme onde o profeta deles é ridicularizado seria retirado do ar e o seus produtores e diretores presos, como manda a lei para crimes de ódio, como o racismo, machismo e a homofobia. Como é repugnante nos dias de hoje (não que não tenha antes sido, mas era aceitado por essa mesma moralidade hipócrita) fazermos um filme onde negros sejam colocados como seres inferiores, mulheres como simples objetos e homossexuais como aberrações, também é fazermos um filme que marginaliza grande parte da população mundial, chamando-os de ignorantes e estúpidos. Seja você religioso ou não, de que religião for, você não deveria colocar a sua "liberdade de expressão" à frente de qualquer coisa. À frente, principalmente, do respeito pela história de vida do outro, suas convicções e crenças. E não estamos falando só de uma pessoa, o que já seria o bastante, mas de cerca de 1/6 da humanidade. Eles não são tão minoria assim. Mas continuamos pisando.

Concluo com o desafio de pensarmos se realmente estamos seguros. Se realmente compensa lutarmos por nossos direitos e cumprirmos os nossos deveres diariamente, enquanto lá fora, não muito longe ali na esquina, e não só no oriente médio, as pessoas simplesmente continuam intolerantes e extremistas. Continuam pesando tudo em dois pesos e duas medidas. Do que adianta o seus anseio de liberdade ser cumprido sendo que toda uma cultura está sendo desprezada ? Do que adianta a luta por direitos dos seus iguais sendo que os seus diferentes estão sendo massacrados e você aplaude e fala: "Eles que começaram". Chega a ser infantil a nossa busca por segurança quando a verdadeira violência mora no coração do homem. É nesse momento em que eu penso: Tomara que Alá/Jeóva/Shiva/Jesus ou qualquer outro (ou até mesmo nenhum deles, mas a simples solidariedade e coerência do humanismo) tenha piedade de nós por sermos tão mesquinhos e ignorantes. E que possamos sobreviver pra um dia ver tudo isso apenas nos livros de história e dizermos: éramos brutais, mas melhoramos.

sábado, 1 de setembro de 2012

Felicidade Infeliz



Que felicidade é essa que precisa de instrumentos musicais tocando algo animadinho ?
Que felicidade é essa que necessita de copos de bebida, pulmões cheios de fumaça
que necessita de narizes entupidos, de veias vazias.

Que felicidade é essa que precisa de mais alguém pra acontecer. que precisa de uma, duas, dez ou mais camas diferentes (ou iguais) por mês ?
Que felicidade é essa que vem num motor de um carro, na hélice de um helicoptero, no leme de um barco ?
Que depende de uma torre de ferro e pedra, que apesar de segura e durável, um dia caí.
Que felicidade é essa que necessita rodas de buteco, reuniões da igreja, encontros num domingo a tarde no parque ?
Que felicidade é essa que precisa de um canudo de papel, de um aplauso, de um título frio gravado numa porta de uma sala, de um cubículo, de uma parede.

Que felicidade é essa que precisa de (bilhões de) cabos pra se conectar com um mundo irreal, onde se pode ser qualquer um e onde qualquer um pode ser alguém ?
Felicidade que vem de uma terra de sorrisos de plástico e de cabeças que, de tão vazias, nem mesmo se autocriticam. Um mundo onde o certo é a cópia, onde o bonito é "a espuma".
Que felicidade é essa que vem com um pedaço de papel, onde se tem a assinatura de um "homem importante" e um número.
Mais felicidade ainda se o número for 100, o papel for verde e a assinatura for em inglês.
Que felicidade é essa que vem de andar, ver, tocar, saborear o mundo todo e perder-se dentro de si mesmo quando deita a cabeça no travesseiro no seu próprio quarto.
Que se perde em não saber quem é e o que vai ser amanhã.

Que felicidade é essa em acreditar que existe algo ou alguém maior, intocável, de sabedoria insuperável e que você pode fazer parte disso se seguir o que esse algo/alguém lhe diz, "sem se desviar nem pra direita, nem pra esquerda".
Que felicidade é essa que necessita de algo, que não é feliz em si mesma, que não se completa nunca.
Que move guerras, que cria a morte em suas entranhas, que suscita discórdia, que afasta filhos e pais, amantes e amigos.
Felicidade que se torna vício na mais tenra infância, que contamina, que orienta, que regula, manda na vida..
Felicidade que dita. Felicidade ditadura. Ditadura de uma felicidade sem limites, sem fim, sem meios, sem propósito.
Onde ser feliz é ser alguém. Onde não sorrir é ser culpado. Onde dizer que está triste é se sentir fracassado.
Onde a vida tem que ser explosão, cores, ação. O sentimento é de pena, de dó.
Desgraçada felicidade infeliz.