terça-feira, 27 de novembro de 2012

Nunca


Te escrevi algo, e isso está sendo recorrente, mas você não vai ler, nunca.
Não vai porque ando falando demais, escrevendo demais.
Porque tenho pensado demais, porque tudo está sendo demais e esse provável exagero já me cansa.
Nem sempre estar feliz é sinal de que tudo vai bem. Às vezes é só comodismo mesmo. Será ?

Não vai ler porque preciso aprender que me expressar pode até ser bom, mas nunca é agradável. Principalmente pra mim.
Nunca vai porque as suas respostas não andam tendo a mesma velocidade das minhas perguntas, e isso me confunde.
Confunde porque eu sempre quero mais, porque eu sou sincero, visceral, intempestivo, emocional. Em resumo, porque eu sou um chato.
Não vai ler porque tem que se trancar algo, não é bom deixar o coração voar tão leve por aí. Solto.

Você nunca vai ler. Só quando tudo isso passar. Amanhã, talvez. Hoje mais tarde. Se você pedir. Se eu não conseguir segurar, quem sabe.
Mas vai ser no momento em que ainda ressoar, confirmando, a vontade de te dizer tudo aquilo que o coração esperneia, contorce e grita, mas a cabeça não acompanha, insistindo em dizer que a dor pode ser grande demais.
Se todo o problema fosse medo de se entregar, de talvez ter que aguentar a dor, seria fácil demais. Já aprendi a lidar.
Não tenho medo de sentir, seja o que for, mas tenho medo de estar só.

domingo, 25 de novembro de 2012

Sobra


Não tenho medo do que falta, mas temo o que sobra.
Vai sobrar gente que eu não vou poder conhecer.
Vão sobrar lugares que eu nunca vou poder ver.
Vão sobrar cafés, cervejas, cachaças que eu não vou degustar.
Sempre sobram aquelas horinhas no fim do dia onde não dá pra fazer nada.
Já sobram aqueles livros que eu comprei e nunca tenho tempo pra ler.
Sobram também aquele vinis que eu comprei no Rio e sempre não dá pra ouvir.
Eu talvez nem faça falta, mas vai sobrar um lugar na mesa.
Sobra saudades da pequena. Sobra vontade daquele beijo que eu nunca vou esquecer.
Não que sempre faltem abraços, mas às vezes parece que sobram braços.
Sempre parece que não me falta o tempo, mas que me sobram as oportunidades, as vontades.
Ainda sobra algo aqui dentro.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Giro


O mundo gira.
Independente dos bons ou dos maus (dias ou gentes),
do seu cinismo ou da sua alegria,
lá vai ele girando, incólume, íntegro. Impávido.
Não há muito que você possa fazer quanto a isso. Exatamente nada.
Alguns lamentam, outros aproveitam, todos passam.
Hoje nós somos, algo ou pouco, mas amanhã nem isso. Dividido entre choro e aplausos.

O tempo passa, mas isso não diz que as coisas mudam.
As aparências variam, os cenários mudam, mas na essência ainda "somos como nossos pais".
Vivemos no mesmo mundo sem heróis,
ainda continuamos preenchendo nossos vazios existenciais, às vezes com as mesmas coisas.
Vivendo em mundo com muita ideologia, mas pouco ideal verdadeiro. No mesmo mundo.
Talvez você até argumente coisas como dizer que as crianças de antes eram menos desrespeitosas e os velhos mais reclamões, mas você bem sabe que isso não é bem verdade.
Isso não passa de um glamour do passado, da sua nostalgia.
Mas faz muito tempo que as coisas não mudam de verdade.
O mundo ainda gira, no mesmo modo. Impávido define bem.
Até me conforta (pouco) saber que ainda há coisas imutáveis.

Tudo continua o mesmo.
Sua insatisfação não é dos erros, e sim do pouco que você conseguiu apreender desse giro todo.
A graça não se perdeu no mundo, mas se perdeu em você.
O seu desgosto vem de dentro, e não de fora.
Que culpa tem o mundo, se ele continua fazendo o que sempre fez ?
Não há sombra de dúvida no seu humor, nem inconstância nas suas afirmações. Diferente de você.
Há de se adaptar, há de tentar mudar. Ser melhor, não se prender, se deixar levar, girar junto.
Repensar, reafirmar, realizar, respirar.
Ainda há outras coisas para se ver, ainda há sensações diferentes, lugares, ideias, pessoas.
Ainda há tanto em você pra se construir.

Ainda há proveito, a vida é curta.
Às vezes dura muito, mas nunca o bastante.
Com todos, e é sério quando digo todos, se morre com algo preso,
com mais alguma coisa a ser realizadas, com um sonho escondido lá no fundo,
esses sonhos que só precisavam de mais um dia, uma hora, mais um pouco de vida.
Me incomoda como ainda há tantas coisas que não saíram do papel. Frustrante.
A morte é, como o tempo, implacável.
Uma questão de "quando", uma pergunta sempre com resposta.
Um ciclo fechado de um pequeno giro do mundo, mas não tão importante pra todos os outros. Viva!

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Destino


Só da felicidade já sentida pode se entristecer.
É quase uma condição necessária essa dualidade, o contraste e oposição, que são como irmãs gêmeas a manipular as marionetes que são nossos corações.
Hoje eu acordei novamente procurando o erro, tentando encontrar algum tipo de porquê, como seria racional fazer. Mas pra que fingir que eu sou racional quando há de se aceitar as manobras que a vida as vezes faz, as peças que o destino prega.

Não escolhi a tristeza hoje, mas me submeto.
Não posso ficar feliz quando certas coisas acontecem sem que seja possível pelo menos uma escolha minha.
Há de se concordar que às vezes o desenrolar das coisas desaba em situações onde ninguém tem culpa pelo amor que não aconteceu, pela dor que fica, e eu considero mais doloroso quando é assim.

Hoje você se foi, mas aqui dentro a vontade é que não. Não sei se vai feliz ou triste, não sei se mais confusa do que nunca ou se já com a clareza necessária, não sei se se sentindo livre ou somente com esperanças de melhoras.
E quando você foi, aqui dentro sobrou saudade, até mesmo do que nunca sequer existiu.
De você, eu guardo as lembranças mais ternas, até mesmo na cena de cinema que foi o "fim".
Espero que não tenha fim. Espero, principalmente, que o fim não seja esse.
Meu coração teima em não esquecer, em querer lutar, em querer, que seja, sofrer.
Minha esperança é que esse dias não sejam de "adeus", mas de "até breve".
Meu peito ainda não desistiu de tudo que eu senti em tão pouco tempo, mas de maneira tão única.
Hoje eu entristeço, mas só porque já estive feliz. É isso que eu quero guardar de tudo isso.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Moinho


O mundo é moinho.
Como tal se começa, em semente, cheio, intacto.
Os dias, as pessoas, as coisas passam e a vida vai se mostrando o moinho que é,
os sonhos vem e logo vão, os planos falham, as ideias mudam.
E em recaídas e em levantes vamos caminhando, não sabendo exatamente pra onde.
A vida vai lapidando ao mesmo tempo em que também vai gastando. Nem boa ou ruim, só verdadeira.
Gasta de tal modo que quando se olha pra trás não se percebe o quanto se mudou no tempo.
E de mudanças em mudanças vamos criando o que somos, ignorando, amando, festejando e chorando.
E no final de cada dia se chega menor, mais cansado, triturado. Porém, mais puro, mais essencial.

sábado, 10 de novembro de 2012

Escolhas


Algumas coisas não podem ser escolhidas.
Na verdade, eu penso que a grande parte não pode.
Porém isso não define as coisas como ruins ou boas.Nem me considero sábio o bastante pra fazer esse tipo de juízo de valor.
Uma dessas coisas que não escolhe, com certeza, foi gostar de você. Ainda mais em tão pouco tempo e desse modo.
Gosto de pensar em você como um presente que a vida me deu, e isso me deixa menos confuso. Como me disse um amigo: "Tudo isso tá sendo intenso e conturbado, mas tá sendo como sua vida sempre foi".
Penso em você como um presente porque já vejo os reflexos do impacto que você fez por aqui.
Lembro do seu sorriso e isso já melhora o meu dia. Lembro de tudo o que você me disse e meu coração se torna menos duro.
É bom ter um coração de carne novamente, mesmo que eventualmente sangre.

Já algumas coisas se escolhe, mas as escolhas quase nunca são fáceis.
Uma das escolhas que eu considero fácil, é escolher a si mesmo. É fácil tirar o corpo fora, pensar no que é melhor pra mim. Isso não torna as pessoas melhores, só demonstra infantilidade.
Há de se considerar que as suas escolhas afetam todo o restante da sua vida. E ainda pior, afeta a vida dos outros.
É aquele papo de que suas ações ecoam por todo o universo, o que eu considero bem verdade.
Se eu estivesse em qualquer outro lugar, a qualquer outra hora, com quaisquer outras pessoas, eu não estaria escrevendo agora para você. Talvez nunca tivesse te conhecido, talvez nunca iria.Tudo fruto das minhas escolhas.

Já que a vida é feita tanto de escolhas, apesar dos acasos, eu já escolhi.
Eu escolho viver no hoje, mas não somente. Eu escolhi sonhar com o amanhã.
Eu escolhi olhar pro meu passado com saudade e ternura e não com dor ou arrependimento, e eu considero que todo passado pode conter bem ambas as coisas.
Eu escolhi ser transparente, não deixar meus erros escondidos. Eu escolhi ser humilde o bastante para aprender com esses erros, uma escolha feita com negação e conflito, como a maioria das boas escolhas são.
Eu escolhi me expressar escrevendo, mesmo que as vezes doa, eu escolhi a sinceridade. Isso mostra bem como algumas coisas precisam ser "abraçadas", apesar de serem determinadas por um dom, por um destino.
Eu escolhi ser flexível, ser aberto ao novo. Escolhi poder começar minha vida do zero a qualquer momento. Isso me dá a liberdade que necessito.
E hoje eu escolho gostar de você, apesar disso ter sido determinado pelo meu coração na sequência imprevisível de tantos fatos.
Eu escolho gostar de você de olhos fechados, mesmo sem saber se vou ser escolhido.
Hoje eu escolho as borboletas no estômago, escolho a inspiração, escolho confiar em alguém.
Escolho deixar o coração bater mais forte, mesmo não te conhecendo tão bem, mas sentindo uma vontade quase desnorteante de conhecer.
E escolho porque confio nos meus ideais e nos meus sentimentos. Sei o que acontece quanto perco os adjetivos, os advérbios, os substantivos e todo o resto: eu já me derreti.
Escolho porque, mesmo que equivocado, não há como deixar certas coisas passarem. E minha atual vontade de viver é mais forte que minha razão. O que eu sinto por você consegue ser mais forte até que eu mesmo.

domingo, 4 de novembro de 2012

Pasárgada

Antes que alguém pense que eu tô inventando alguma coisa, eu simplesmente li o texto do Bandeira e escrevi o que eu entendi de lá. Pode chamar de paródia, mas pra mim é tipo uma resenha. No mais, foda-se se não gostar e achar uma putaria sem tamanho. Poesia não é essa viadagem toda que cê pensa não, flw.



Vou-me embora pra pasárgada,
não sei onde fica, não sei se existe de verdade ou se é da imaginação desse Manuel.
Só sei que o rei de lá é meu brother.
Lá quem eu apontar vai transar comigo,
e a cama sou eu quem decido.
E só por isso eu vou pra lá.

Vou lá pra pasárgada,
porque aqui é uma merda.
Lá eu vou poder fazer o que quiser,
Lá vai ser o que eu sempre quis.

Não vou fazer nenhuma daquelas viadagens que o Manuel falou que faria.
Eu vou mesmo é ficar deitado na rede, bebendo cerveja e escolhendo as moças.
Se lá eu posso escolher qualquer uma, como o rei diz, porque eu vou precisar andar de bicicleta mesmo ?

Em pasárgada tem tudo.
Tanto tem tudo que pode parecer abu dhabi, pode parecer shopping center, a cômoda da sua vó.
Mas não, é pasárgada.
Lá tem camisinha.
Lá tem celular.
Lá tem cocaína.
Lá tem uma putas boas, bonitas e baratas pra gente esquecer das vagabundas daqui.

E quando eu estiver no fundo do poço,
e tudo que eu pensar é em colocar uma bala no meio da minha testa,
eu vou escolher outra menina, e ela vai transar comigo. E na cama que eu escolher.
Porque o rei manda naquela porra toda. E ele é meu brother.
Por isso que eu vou pra pasárgada. Esse tal de Manuel manja das putaria.