sábado, 23 de fevereiro de 2013

Querer Bem Quisto


Eu te quero como o peão quer descanso depois de um dia de trabalho.
Eu te quero como fabiano queria chuva, como Baleia queria preá;
como o cansado quer sono, como a lágrima quer lenço de papel.
Te quero como o marujo quer ver terra-à-vista.

Te quero como o sorriso quer ser pra sempre,
quero como a tristeza arreda em não ir, de vez, embora;
te quero como a saudade me lembra, safada, que vai permanecer.
Quero, de lembranças boas, o dobro; de ruins, quero borracha.

Você quero toda, sem tirar nem por, com sujeirinha no canto da boca, pintinhas e ruguinhas;
te quero igual quero de novo aquele cochilo na rede, naquele domingo a tarde quente, na semana passada. Já mandei pro Papai Noel seu nome, na minha listinha de natal.
Do nosso amor, tão bom, quero você junto, comigo, pra sempre, quem sabe ? Eu tenho a certeza.
Do passado, não penso em querer nada, mas no futuro, você.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Pódio


Hoje considero o medo instintivo.
Ainda mais no que chamamos ultimamente de mundo, de casa,
nas nossas concepções, na nossa ideologia mais arreigada.
Transpira-se ansiedade, é visível nos olhos;
aprendemos desde pequenos: temos que ser os melhores.

Quero um mundo diferente, mais leve.
Quero tirar a pressão de ser perfeito, de ser sempre bom,
a necessidade de ser rápido, de ser objetivo,"quero ir lentamente pra não atrasar".
Já passamos por tanta coisa, me espanta as escolhas ainda não serem livres.
Os pensamentos deveriam ser fartos, deveriam triunfar sobre os preconceitos.
O amanhã deveria, desde ontem, ser cheio de esperança e não parte do desespero de ver que tudo está passando como um piscar de olhos.
Hoje somos velhos antes mesmo de sermos jovens. Hoje destruímos parte do que nem sequer tivemos tempo de construir: nossa liberdade, nossa vida.
Destruímos nossa inocência, destruímos o nosso tempo, que é precioso, mas que não é contado como deveria ser.
E nessa loucura de sermos modernos, temos medo. Até de nós mesmos e do futuro.

O amanhã aflige por não ser claro, o outro por ser diferente, e a falta de clareza e as diferenças nos atrapalham de "chegarmos logo".
Chegarmos a onde ? Em ser feliz ?
Se ser feliz é se prender, se trancar, construir muros ao redor,
se ser feliz é se sacrificar, não se conhecer, não aproveitar,
se ser feliz é o aplauso, é o reconhecimento, é ser o melhor,
prefiro não ser isso tudo, prefiro continuar sendo menos e menor pros que olham.
A consciência que eu tenho de mim vale mais a pena que uma medalha.
Me prefiro valente, meu pódio prefiro vazio.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Achado


Ela me sorriu,
e naquele sorriso eu decidi fazer meu lugar.
No brilho daqueles olhos eu encontrei a estrela-guia desse oceano.
É a porta-bandeira que me dá a beleza de sambar como mestre-sala,
seu jeito de menina tomou de assalto meu coração de malandro.

Me dê sua mão, vamos passear pelas nossas vidas como um só.
Deixa-me um pouco da sua felicidade por aqui que eu te entrego um pouco de paz por aí.
Me diga que eu sou o seu conforto nos momentos difíceis,
te digo que você é a esperança de que amanhã vai tudo melhorar.
E assim, a vida vai indo afinada, no mais belo compasso, e sem voltar atrás.

Talvez um dia na vida eu me arrependa de muitas coisas,
mas uma delas com certeza não serão aqueles momentos em que eu te disse "eu te amo",
e nem serão aqueles momentos em que eu ainda penso "pra sempre".
Porque não teria sentido guardar o melhor de mim pra se acabar em mim mesmo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

retilíneo

não consigo andar em linha reta, não sou tão direito.
não tente me colocar em uma caixa, num padrão, não sou reto.
me alegro na inconstância, visivelmente caótico.
penso, penso e, de pensar, decido: ser o improvável.

faço minha vida em saltos de bungee jump sem corda.
sem garantias, sem futuro e, portanto, sem maiores riscos;
é meu jeito de chegar ao final e dizer: "tudo deu certo".
corro atrás de visões, vejo somente de relance, toneladas de pensamento fugaz.
escrevo meu futuro em cima de um monte de probabilidades que, de tão impossíveis, me definem.

o que eu sou, totalmente não sei, me defino pequeno.
sou a fragilidade de não ter proteção, sou o medo de ser sincero, sou um coração vagabundo.
sou carnaval, sou paixão, sou explosão. sou a risada espontânea, o plano maluco, a ideia inconsequente.
sou aquela resposta que veem depois que a discussão acabou, l'espirit des escaliers.
sou aquela palavra na ponta da língua que muitos desistem de falar.
sou aquela emoção que de tão forte parece física, sou o ímpeto de ser livre.