terça-feira, 30 de julho de 2013

Verdadeiro Malandro

"Fui fazer um samba em homenagem à nata da malandragem", mas desanimei.
Tudo que vejo é gente que não sabe realmente o que isso significa.

Malandragem não tá no fundo de um copo, muito menos na ponta de um cigarro.
Malandragem não tá no aro do seu carro, muito menos na trajetória de uma bala de 38.
Malandro de verdade é quem pega ônibus de manhã, quando o sol mal nasceu,
mas não pra chegar em casa, mas já saindo pro trabalho.
Malandragem é correr atrás, malandragem é nunca parar, é colocar comida em casa.
Malandro de verdade é o porteiro do seu prédio, é a empregada da sua casa. Ouça-os.

Malandragem é registrar o seu moleque, e ter orgulho de ver o seu nome na certidão.
Malandragem de verdade é chegar, do lado da sua velha, aos 80. É ter alguém, um dia, tatuado no coração, pra sempre.
Malandragem é se reiventar, deixar pra trás vícios, hábitos, pessoas, e caminhar pra frente.
Malandragem é não precisar de muito, mas ao mesmo tempo não se acomodar com o que tem.
É respeitar os pais, é ensinar os filhos. É ter um lugar pra chamar de lar.
Malandragem é saber segurar a sua onda, mesmo que você ainda sinta necessidade de extravasar centenas de desejos.

Em meio aos "funks da ostentação", esse sou eu buscando iluminação.
Quero ser leve o bastante pra um dia aprender a voar.
Decolar toda manhã, me sentir mais e mais parte desse mundo, me transformar.
Quero ter a fluidez de poder caminhar por qualquer lugar, rico ou pobre.
Quero a paz de não precisar de nada pra viver, além de mim. Certeza de que sempre vou ser feliz.
Malandragem é se conhecer, é poder fazer o que quiser, mas mesmo assim às vezes não fazer.
Por consciência, por respeito, por sonhar com um futuro. Quero ser malandro em sempre tentar ser melhor.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Tangente

É de um amigo, mas poderia ser tão meu.



"Às vezes me pego sonhando acordado com a imagem, recorrente, da penumbra de lençóis e corpos no meio da madrugada. Assim eu reconheço, sem muita visão, no entrelaçar terno e morno de pernas e braços, a epifania personificada, encarnada, endeusada - e porquê não, amada - em cabelos longos com perfume de Phebo.

Lá, parada, firmando as vistas contra a minha.

Enfim.

Quase imperceptível na pouca luz do quarto, no brilho excessivo daqueles olhos entreabertos. Dentro deles, o reflexo do meu sorriso, duplicado nas suas pupilas dilatadas.

Enfim!

Então digo pra mim mesmo, apesar de cotidiano, que aquele é o momento que eu mais aguardei em toda a minha vida, enquanto volto mais uma vez a atenção para o reflexo, pra ter a certeza de que sou eu quem lhe fez, hoje, ontem e os dias anteriores a ontem, cerrar os olhos pela metade e, por alguns breves momentos, não conseguir fazer nada além de observar as figuras que formam na parede escura das luzes vindas da janela.

A realidade também não é ruim. você transparece ser feliz daí, e eu ao longo do tempo aprendi a fingir bem, daqui. A vida segue pros dois, acomodados com a idéia de nunca atingir a tangente.

Mas às vezes, nos dias mais penosos, recorro à uns goles do rum barato que meu avô costumava comprar, o maço escaço e amaçado de malboro, e aquela imagem, recorrente, da penumbra de lençóis e corpos no meio da madrugada. "



Ps.: O título é meu.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Amargor

Falas de amor com ardor,
falas com a boca cheia;
Mas tudo parece ser baseado apenas no seu supor,
Ideia real do que é, não tens meia.

Deveria haver alguma lei, se não na terra, então no céu,
que te proibisse de citar o nome do Deus Amor em vão.
Enche a boca de mel,
mas é um amor vazio, que se restringe a corpos, hormônios, sem qualquer ação.

Se pudesse, te proibiria de falar de amor,
você não conhece o seu real significado;
Da boca pra fora amor é uma palavra banal que só rima com dor,
E de prova tenho meu amargor, meu peito, ainda não tão assim cicatrizado.

Pode falar de vontade, de paixão, de que alguém deseja,
mas enquanto não aprenderes a alegria de se amar nos momentos tristes, enquanto não souberes engolir o orgulho e pedir perdão, 
se continuas a maltratar as pessoas que te amam, enquanto nelas pisar como pisas no mais imundo chão,
ainda vou desconfiar do seu real intento, ainda vou ter pena da boca que te beija.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Noites Cariocas II

Você foi a minha musa nessa roda, por duas ou três músicas, sei lá, muito bêbado pra lembrar.
Mas me encantou e me inspirou pra escrever sobre a gente daí. Seu nome eu não sei, ou "uísqueci". Não faz diferença, vou falar do que lembro e vi.

Começa por fora, no dourado da pele, naquela curva da cintura, parece que a pele exala a felicidade da praia estar sempre ali, cheiro de sal e a textura da areia.
Cabelos, ao vento. Pra quê se preocupar com cor, com estar ou não seguindo um padrão. É linda sendo você mesma.
Mas nem é beleza só de fora.

Como tudo, depois se interioriza. Personalidade linda, energia sempre positiva.
Sorriso que transparece sinceridade, felicidade, tranquilidade. Que desnuda a sua alma e lava a dos que te olham, hipnotizados.
Cabeça clara, mente aberta, sem medo do amanhã. É visível pelo seu modo de conversar.
Maravilhei-me pela sua abertura comigo, que não sou tão carioca assim, mas tento.
E ainda tem aquele sotaque, ai. O sotaque sempre me pega.


Acho que sou um pouco carioca de alma, de samba, de ter o pé no chão e a cabeça nas nuvens.
Sou inteiramente carioca de saudade, de um coração que pulsa por esse canto de Brasil.
Sou de alma, inteira, que dói quando demora chegar aí. E que dói, mais ainda, de vontade de ficar.
E de ficar em ficar, aí sempre estou.
Talvez um dia nossos caminhos se cruzem e de musa inspiradora por três músicas, você seja de uma roda de samba inteira. Quiçá da vida. Uma carioca pra chamar de minha.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Brasileiro

Como todo brasileiro, sou assim, preto, cafuzo, mameluco, criolo, cabelo que dizem ser ruim, mas pra mim é o meu, é o lindo.
De um sorriso que mostra cada estado do Brasil, cada recanto, cada fim de mundo.
E no sangue o sofrimento, o banzo de cada escravo e a resiliência de cada senhor branco.

Sou filho daquela língua doce, do português que se influencia rapidamente, do sotaque goiano, daqueles que dizem porrrta.
Mulato, sou do batuque, sou o carnaval, o bumba meu boi, a quadrilha, sou parte dessa felicidade em celebrar a vida.
Sou aquele da camisa amarela com 5 estrelas, sou desses que não sente "falta", sente é saudade mesmo, daquela que arde.

Olho pro alto, e com o peito cheio de orgulho: de ser brasileiro, todo, de pele, de língua, de seleção, de sonhos e mentalidade. Sou fruto daqui, luto pelo meu país, e meu coração grita por cada canto dessa terra, dessa maravilha que chamam de país e eu chamo de casa.