quarta-feira, 27 de novembro de 2013

E agora ?

Acordei num dia nublado, num mau-humor que persiste há dias e a tudo.
Acordei na ociosidade de somente olhar pela minha janela e ver que, mesmo que o sol nasça, isso não torna minha vida mais clara. 
Acordo sem expectativas, sem saber o que fazer depois de levantar, no que existir.
Acordei com um ar de “E agora José”.
Acordei do sono, acordei de mim.
Acordei do sonho que estava vivendo, um sonho sem responsabilidades, onde só havia amigos num barzinho batendo papo num final de semana, esperando a segunda chegar, pra então voltarmos a não fazer nada.
Acordei preocupada, acordei com a verdadeira obrigação de viver por mim, ser eu, caminhar com meus próprios pés, tê-los no chão.
Acordei do verão que vivia, da eterna distração, do eterno recreio.
Acordei da falsa preocupação com os mínimos deveres de ser, ainda, infantil.

Sonho. Foi só um sonho.
Acordei tarde, no entanto acordei. Ao menos acordei. Mas e agora?
“E agora José?"



Feito a quatro mãos com a Naomi :)

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Rebanho


Hoje eu vi um ônibus que bem  parecia um caminhão de abate.
Mas talvez seja ainda pior,
um caminhão de um abate diário, contínuo, com carteira assinada, férias de 30 dias e 13 salários.
Será pior que um abate repentino e imediato ? Ou simplesmente menos assustador ? Mais doloroso.
Uma viagem de quase 3 reais rumo a um frigorifico qualquer.

Trabalhadores numa terça de manhã, 
atravessando a rua como uma revoada de pombos.
Seus rostos meio pretos, metade de um número inteiro de negros,
refletindo os poucos raios de luz,
refletindo o sono de quem ganha o dia antes mesmo dele nascer,
refletindo a esperança de que dias melhores virão, ainda é terça!
refletindo o desespero de que tudo pode ainda piorar, ainda é terça...
refletindo o desapontamento e a ansiedade de ainda ser terça.

Na cara bovina de cada um é palpável que a escravidão, em
outra figura, é ainda reinante, que nenhum deles trabalha pelo o que realmente valem.
É real que se sacrificar, sono e sonhos (literalmente), é  necessário pra sobreviver, e que, enquanto assim for, nenhum trabalhador é realmente livre.
É avassalador o reconhecimento tácito, do analfabeto ao doutor, que todos são peças da mesma engrenagem, são todos gado do mesmo rebanho.