terça-feira, 12 de novembro de 2013

Rebanho


Hoje eu vi um ônibus que bem  parecia um caminhão de abate.
Mas talvez seja ainda pior,
um caminhão de um abate diário, contínuo, com carteira assinada, férias de 30 dias e 13 salários.
Será pior que um abate repentino e imediato ? Ou simplesmente menos assustador ? Mais doloroso.
Uma viagem de quase 3 reais rumo a um frigorifico qualquer.

Trabalhadores numa terça de manhã, 
atravessando a rua como uma revoada de pombos.
Seus rostos meio pretos, metade de um número inteiro de negros,
refletindo os poucos raios de luz,
refletindo o sono de quem ganha o dia antes mesmo dele nascer,
refletindo a esperança de que dias melhores virão, ainda é terça!
refletindo o desespero de que tudo pode ainda piorar, ainda é terça...
refletindo o desapontamento e a ansiedade de ainda ser terça.

Na cara bovina de cada um é palpável que a escravidão, em
outra figura, é ainda reinante, que nenhum deles trabalha pelo o que realmente valem.
É real que se sacrificar, sono e sonhos (literalmente), é  necessário pra sobreviver, e que, enquanto assim for, nenhum trabalhador é realmente livre.
É avassalador o reconhecimento tácito, do analfabeto ao doutor, que todos são peças da mesma engrenagem, são todos gado do mesmo rebanho.

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